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Crendices, Orações e Benzimentos

Crendices, Orações e Benzimentos

As orações, rezas, benzimentos, e responsos eram muito usados pelos nossos antepassados. E nesse gênero também, o nosso folclore é rico. Constituíam um fato curioso porque a religião se associava à superstição sem que, com isto, os devotos deturpassem a sua fé.

No Estado da Bahia ainda é comum os católicos praticantes, louvarem Iemanjá, respeitarem o Caboclo, a Cabocla, a Mãe d’água, usarem benzimentos, etc.

Dentre as nossas usanças recolhemos as seguintes:

Para tirar “olhado”, principalmente nas crianças que, com sua beleza pura e inocente, estavam sujeitas com mais facilidades aos “maus olhos”, havia esta oração:

“Deus, quando andou pelo mundo,
numa casa chegou e encontrou:
homem bom e mulher má,
esteira velha em canto molhado.
Deus te tire este olhado,
Pelas Três Pessoas da SS. Trindade,
Padre, Filho e Espírito Santo – Amém”.

Repetia-se a mesma coisa três vezes, fazendo cruzes com um raminho de mato. Quando as folhas murchavam (isto sempre acontecia com o calor da mão) e a benzedeira bocejava três vezes, a criança estava com “olhado”.

Caxumba era curada do seguinte modo: o doente dizia: “caxumba, minha caxumba, com você não quero nada; tome lá esta “imbigada”. E dava umbigadas em três cantos da casa.

Os antigos tinham benzimentos para tudo. A erisipela, por exemplo, era “medicada” com os seguintes versos:

“Pedro e Paulo foram a Roma,
e Jesus Cristo encontrou.
Este lhes perguntou:
Então, que há por lá?
Senhor, erisipela má.
Benze-a com azeite,
e logo te sarará”.

Mesmo as pessoas mais piedosas, que levavam uma vida plasmada pela religião, não deixavam de acreditar nos benzimentos e levavam seus filhos para que as benzedeiras os curassem de seus males, como: torceduras, “ventre caído”, icterícia, torcicolo, “olhado”, etc., e também não deixavam de usar, pendurados no pescoço, cruzes e patuás.

Ao se deitarem, além das orações comuns, rezavam a que vamos transcrever numa homenagem àquela que no-la ensinou:

“Com Deus me deito, com Deus me levanto,
Com a graça de Deus e do Espírito Santo.
Se dormir muito, acordai-me,
com todas as tochas de vossa Trindade,
na mansão da eternidade”.

Para curar icterícia a pessoa doente teria que urinar num tijolo quente.

Torceduras – a benzedeira munia-se de uma trouxinha de pano com agulha e linha. Fazendo orações, massageava a parte doente e de vez em quando dava uns pontos na trouxinha, perguntando ao paciente:

- O que coso?
- Carnes quebradas e nervos torcidos.
- Isto mesmo eu coso.

Assim, sempre dando massagem e costurando o pano, repetia a operação três vezes.
Cobreiro curava-se fazendo cruzes de tinta de escrever em toda a região afetada pela dermatose, atribuída ao contato das roupas com alguma cobra, e rezando-se esta oração:

“Santana gerou Maria, Maria gerou Jesus.
Assim como estas Palavras são verdadeiras,
Deus seque este cobreiro,
Com a cruz de N. S. Jesus Cristo. Amém”.
 
Quando a cidade era infestada por qualquer epidemia, a par da fé que depositava na Virgem Santíssima, usavam também pregas atrás da porta de entrada, tentando impedir a entrada do mal, uma oração escrita em forma de cruz:

Além das inúmeras orações e benzimentos, invocavam os Santos nas suas necessidades.
Para curar a vista invocavam a proteção de Santa Luzia:

“Santa Luzia passou por aqui,
com o seu cavalinho comendo capim.
Perguntei se queria água, disse que não.
Perguntei se queria milho, disse que sim”.

Enquanto estas palavras eram pronunciadas puxava-se a pálpebra superior.

Para afastar baratas repetiam-se estas palavras em todos os cômodos da casa:

“Jesus, Maria, São José, São Bento, tirai as baratas deste aposento”.

Rogava-se a proteção de Santa Bárbara e São Jerônimo para aplacar as tempestades.

“O taumaturgismo do “responso” do santo lisboeta trazido para o seio de Deus em Pádua” – Santo Antônio – era invocado para encontrar objetos perdidos e para arranjar casamento. Colocava-se sob a sua imagem bilhetinhos com os pedidos e o nome da pessoa amada.

“São Brás, no prato tem mais”.

Muitas eram as crendices dos nossos ascendentes.

Ao lado do travesseiro do recém-nascido, colocava-se uma tesoura de aço aberta ou mesmo uma faca, sobre o livro Horas Marianas, aberto na página onde se via uma estampa da Sagrada Família para afugentar as bruxas que vinham durante a noite sugar o sangue da criança.

Quando se tomava purgante, segurava-se uma chave para evitar vômitos.

O medo do Saci Pererê herdamos dos nossos ancestrais índios. Já a crença no lobisomem, na bruxa, na mula-sem-cabeça, na pata e todas essas crendices “zoometamórficas” nos vieram do folclore ariano.

 

Fonte: Vila Velha de Outrora
Autora: Maria da Glória de Freitas Duarte – Vitória,1990
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2012 

 

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