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O Tesouro dos Cinco Pontões - Por Adelpho Monjardim

Foto: Jornal Online Folha Vitória, 2012

O «affaire Jesuítas» permanece intacto através dos tempos. Arraigada está a crença de que a par da missão evangelizadora interesses outros, alheios à parte espiritual, orientavam os seus passos nas selvas.

Longe de nós a intenção de menosprezar a nobre e redentora missão da Companhia de Jesus, que sem armas outras que o Evangelho e a Cruz desbravaram sertões, convertendo o íncola; enquanto nas santas pegadas das suas sandálias a História e a Civilização penetravam no âmago da Pátria Brasileira.

Ninguém faz restrições à benemérita obra loyolista, à sua contribuição para os cimentos da nacionalidade, catequizando e incutindo na alma simples do silvícola as noções de pátria, o espírito comunitário, sem os quais seríamos mero aglomerado humano à margem da civilização.

Sem que se empanem as excelsas virtudes da Companhia de Jesus, é justo que a par das atividades espirituais desenvolvessem os jesuítas outras de ordem material, pois que a Companhia precisava sobreviver e dar a sua contribuição à Ordem. É possível que durante a fase catequista, conhecendo as riquezas naturais da terra, orientassem os índios no sentido de obter o ouro e as preciosas gemas que sabiam existir nos socavões das serranias e no leito dos rios, carreadas pelas águas. Não havia mal que aproveitassem o que oferecia a dadivosa natureza; mesmo porque de nada serviam aos índios, que preferencialmente se adornavam com as vistosas penas de algumas aves.

Assim, com ponderação e lógica, pensa muita gente culta. Como então poderia a Companhia ter enviado tanto ouro para Roma? De onde provinha?

Por motivos que fogem à nossa alçada, e que não pretendemos esmiuçar, Pombal a expulsou do Brasil. Em todo o território nacional as suas Casas se esvaziaram como por encanto. Só deixaram os altares, mesmo assim despidos e com os retábulos pelo avesso. Aqui entre nós é crença que, ao se retirarem, os jesuítas enterraram fabuloso tesouro em Caçaroca, uma das suas fazendas, no atual Município de Viana.

Quando a ordem de expulsão chegou em Vitória, em 1759, os jesuítas se eclipsaram com todos os seus pertences.

O que vamos narrar nos foi relatado, por escrito, por pessoa fidedigna, como abaixo transcrevemos:

Cópia do Roteiro dos Jesuítas, tirada em 1880.

Com o decreto do Marquês de Pombal, fomos forçados a embrenharmo-nos nas selvas, no meio dos selvagens, tribo mansa. Subimos o ltapemirim até Caparaó, serra muito alta, num grande planalto residimos muitos anos. Exploramos todas as nascentes e córregos, zona muito rica, todas as minas estão marcadas com marcos de pedra, com 3 e 2, sendo a primeira pedra o feitio de um pé direito, o esquerdo sinais enigmáticos com cruz; tesouro entrada de grutas escritas em línguas mortas. No campo deixamos boa fortuna numa gruta; sinal uma cruz no alto de uma pedreira embaixo a gruta.

Partimos em direção a Este, fizemos aldeamento retirado da serra formato alambique nascente do córrego encastelado corre para S. Jucu S. L. muito ouro. Guandu Santa Ana: N. L. Petingó, Tetipó, tem uma gruta fechada com 2 cruzes de marco esta contém mica, ouro e gemas. Nesta zona todas as minas estão marcadas. A melhor mina de ouro está entre três picos, tem uma lagoa seca abaixo «74» metros do pico de banda há folhetos de milímetros marcado com o pé direito e mais 2 pedras de feitios diferentes com sinais enigmáticos, abaixo onze quilômetros mais ou menos em uma bacia de um ribeirão, contém ouro também em uma lagoa nas mesmas imediações, deste ponto ao aldeamento toma o ponto n.° 85 g. até o marco do pé direito e 3 pedras 23 h. Partimos em direção Três Pontões, pedra muito alta; margiamos o Rio Guandu até a Barra de um riacho. Subindo uns cinco mil metros, contém chumbo; descendo até uma cachoeira, margem do Guandu, encontra-se ouro em um corregozinho marcado 3 pedras de pontas para baixo. Da bacia do Petingó abaixo uns trezentos metros, tem uma pedreira branca, contém minérios e pedras, pouco ouro. Daí fomos direto aos Três Pontões. Contém ouro e diamantes e cobre; sinais escritos por nós. Descemos um ribeirãozinho, passamos um feixe de pedras e saímos numa grande baixa, contém ferro e turmalinas em abundância, ouro na profundidade de quatro metros. Marcos pé direito 3-p.c, sinais enigmáticos (4 10 x 30-70-110-76) a oitocentos metros pé esquerdo achamos um diamante de 8, tem sinal positivo no alto do marco 3 p.c., de ponta aguda vertente. Daí fomos direito aos Cinco Pontões P. norte fizemos nossa morada nesta cordilheira; grande planalto e muito rico a 237 quilômetros do litoral marginamos a margem direita do Guandu, a margem esquerda tem a Lagoa Escura, nasce em Natiamoré, afluente do Guandu Cressiuma contém petróleo bananal, ouro e pedras preciosas, temos uma grande mina de ouro de palhetas melhores. Adquirimos a maior fortuna do mundo. Temos em um subterrâneo uma Ermida a nossa imagem é de um metro e setenta de puro ouro, mas chegou a nossa hora de dar conta ao nosso Criador, refugiados nestas selvas a mais de vinte e nove anos. Nesta luta tanto trabalhamos, tantos males sofremos. Agora que estamos com idéia de nossa liberdade fomos atacados por tribos desconhecidas para nós. Morreu o nosso chefe e, quase toda a tribo; achamo-nos escondidos na nossa gruta. Somos sete viventes que estamos morrendo a fome. Então fizemos um apelo ao Governador do Espírito Santo, com o Roteiro da Gruta e um esboço do Roteiro Geral, por um ofício lacrado; e ordenamos à nossa escrava Sabina, que fala o tupi: que descerá o Guandu até à foz e o Rio Grande até o mar e até o Convento e entregará este esboço. Deus a proteja.

Segue o Roteiro dos Cinco Pontões

Subindo o Rio Guandu uns duzentos quilômetros mais ou menos, os Cinco Pontões uma pedreira muito alta de cinco pontas, encontrarás um córrego que nasce do Oeste para Leste, encontrarás uma cachoeira encoberta logo após uma carreira de cocos palmeiras. Uns quatrocentos metros da entrada cavada, um capelo de alambique, segue cordilheira Cinco Pontões, encontrarás a entrada da gruta. Precisa um pouco de inteligência e pesquisas; na entrada parece que haverá perigo de vida mas não tem, sobe uma escada, sairá em uma sala onde recebe luz e contém água. Então encontrarás a Ermida. Aí estamos, somos sete viventes, segue a escrava Sabina de posse desse Deus a proteja.

Jesuítas

Quanto tempo levou a chegar às mãos do Governador não sabe, mas o certo é que em 1880 chegaram em minha fazenda os Senhores Neiva, Padre José e o Sr. Guimarães, engenheiro. Estiveram seis meses em minha posse com o Roteiro que tirei cópia. O córrego e os Cinco Pontões, a cachoeira é acima da casa, a carreira de palmeiras encontramos, o caminho cavado também, o capelo do alambique achamos. Eu trouxe para a minha casa mais confundimos com os gravatás e não foi possível encontrar a porta. A entrada da gruta durante o tempo em que aí morei, procurei, mas foram baldadas as minhas esperanças. Fiz quatro cópias deste e distribuí com meus filhos Nilo, Emília, Amélia e Elvira e passei aos netos, pois com a devastação das matas pode se tornar mais fácil. Guardai segredo deste documento. Devem procurar toda a cordilheira todas as vezes que forem nessa expedição. Afirmo que existe este tesouro, deve-se ter coragem e procurar com bastante atenção. No pé dos Cinco Pontões eu achei um copo e um pincenez de ouro. Mediante tudo isso é acreditável.

Tombos de Carangola, 27 de setembro de 1927. Antônio Cândido de Almeida Rosa

 

Fonte: O Espírito Santo na História, na Lenda e no Folclore, 1983
Autor: Adelpho Poli Monjardim
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2016

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