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Ilhas - Gilson Toscano de Brito

Ilha das Cobras, Baía de Vitória - 2014

Como paisagens, as ilhas e os arquipélagos sempre me impressionaram favoravelmente. Ocupam posições firmes dentro d’água com dimensionamentos notáveis. Desde menino, quando, no colégio, aprendi a definição de ilha, uma porção de terra cercada de água por todos os lados, e de arquipélago, grupo de ilhas próximas umas das outras, fiquei empolgado por tão régias criações da natureza. É só olhar, parar e ver na ramagem da plantinha, que espontaneamente vai abraçar. Nos cardumes de peixes, rodeando como se estivessem cortejando uma só peixinha. Contemplar  esses lugares é se sentir persuadido pelo belo.

Aqui em Vitória, para mim, a ilha da Fumaça e a ilha das Cobras são como Fadas-Marinhas. Ganham destaque pelo posicionamento próximo à entrada da barra e do porto de Vitória. Lembram um cântico em dueto, expressando paz. Por seus caminhos navegáveis muitas paisagens pitorescas são descortinadas. Isso é muito importante, significativo e muito vivo. É que suas áreas não foram seriamente atingidas pelo progresso e distorções que vêem com o próprio progresso. (Ver, no caso, a transformação da ilha de Santa Maria. De ilha, hoje é bairro.) Mas o fato é que a ilha da Fumaça e a Ilha das Cobras, embora partindo do mesmo ambiente e quase do mesmo ponto, são ambíguas na projeção do homem. A ilha da Fumaça é um local mais de moradia e trabalho. Já a ilha das Cobras, recanto mais para receber visitas. Mesmo assim, as duas são paraísos em comum, só separando-as um caminho de água. Entretanto, possuem os mesmos méritos, para ser melhor desfrutado pelo homem. Alguém pode dignar-se da vida social promovendo acontecimentos esportivos-culturais: canoagem, patinação, natação, escolas, escola teatral e circense, dança e música. Isso não é fazer viagens sem respostas. No caso, ir à lua! É juntar o útil do corpo ao agrado da alma.

Desagradável é o passadiço interligado a avenida Beira-Mar com a Ilha da Fumaça, que alterou toda estética, impediu a passagem da água da maré e enfeiou a avenida Beira-Mar. Gostaria de saber um dia que uma ponte moderna ali fosse construída. Geograficamente a ilha passou para cabo em desarmonia com o conjunto.

“Sabe-se que sem água corrente não há vida”.

Ali naquele espaço, quando a maré está seca, a lama do mangue exala mau cheiro. A água sem saída, após a preamar, deixa o lixo acumulado na lama, que apodrece, e o ar impuro dificulta a respiração.

Peixe não gosta de sujeira e de imediato faz o seu êxodo. Os frutos do mar nesse local apanhados são os que podem produzir as doenças, hepatite e cólera entre outras. Nós sabemos destruir, mas sentimos que vamos prosseguir vivendo conscientes dessa reparação. Nossos pulmões precisam de substâncias balsâmicas que ajudem, saudavelmente, a respiração.

As coisas que planejamos têm que ter um sentido duplo de riqueza. Mas aconselhável é a riqueza espiritual do que a material. Da riqueza material muitas provas desoladoras foram dadas. Que não são do agrado de Deus. As boas ações calcadas na fé, fator de realizações nobres. Um marinheiro, impedido de viajar, deseja boa viagem para a tripulação. A felicidade que não se pode dar, pode-se perfeitamente desejar!

Nos caminhos de água que circundam a ilha da Fumaça e a ilha das Cobras, vogava quando adolescente, acompanhado dos contemporâneos amigos: Hélio Freitas de Oliveira, Vitor e Roberto Norris.  Muitas manhãs de sol a pino e às vezes de pouco sol. Bote a dois remos, águas límpidas e plácidas. Eu tinha mais algo em comum com as ilhas do que com a estação do ano. Aflorando a água viam-se os peixinhos. Cardumes de piabas e tainhas, um encantamento! Aves pernaltas sobrevoando no melhor estilo completavam e amenizavam o visual. As garças, com suas cores brancas, davam um sentimento de paz quando plainavam sobre as pedras da ilha. Eram como árvores frondosas copadas de flores brancas. O martim-pescador e outros pássaros mergulhadores davam vôos rasantes e fisgavam os peixinhos com seus bicos pontiagudos, vitorioso em suas caçadas, um verdadeiro espetáculo, show de acrobacia, trabalho intuitivo que a natureza ensina também no sentido de subsistência.

Dava gosto ouvir o cântico do bem-te-vi fazendo coral com a passarada. O arrulhar dos pombos e o gorjeio das rolinhas. Não tinham a concorrência desleal dos estertores produzidos pelos motores das máquinas. Sentia o sopro continuado do vendo, o céu mais azul e a água correndo. Não ser amado não significava o fim do mundo. Nadava numa maré de sorte!

Navegando, me sentia portador de uma arma contra a existência do frenesi de Jucutuquara. Fugir da ruidosa torcida do Rio Branco, comandada por Manoel Donêncio. “Marcação Rio Branco!”, gritava. Os brados da torcida ecoavam pelos quatro cantos de Jucutuquara. O Craque Alcy Simões o seu maior ídolo. Fugir de comprar leite no alto dos Fradinhos e pagar água na fonte que batizei de “Boa Samaritana”. Enfim, fugir da mesa da professora no curso primário, do Grupo Escolas Padre Anchieta na minha infância e da oficina da Escola Técnica, quando adolescente. Me sentia como tendo plantado a paz e colhido os frutos do meu sonho, o mar. Sentia as emoções renovadas.

Os Guimarães, Orlando, Antenor e Oswaldo, controlavam na Ilha da Fumaça a armazenagem de várias mercadorias e produtos; os derivados de petróleo, a gasolina, o querosene, o bacalhau norueguês. Dessa espécie de pescado, não sei por quais cargas d’água, gostava do cheiro. Sentia-me andando atrás de uma flor, que no jardim tem.  O senhor Natálio Alves dos Santos, nomeado gerente da ilha, morava no alto desse universo cercado de água com a família, Luzia Moura Santos, a sua esposa, e mais oito filhas, muito educadas e bonitas. O ambiente era bem cuidado. Jardins, árvores frondosas e frutíferas, variadas espécies de plantação. O eucalipto da folha-fina, ótimo para purificar o ar, também era cultivado, os colibris e as borboletas em bandos sugavam o néctar das flores. Os frutos do mar, sustendo básico dos moradores e dos que trabalhavam. Siri, o prato mais preferido. Dizem que o nome da ilha da Fumaça originou-se das fogueiras que todas as noites eram acesas por um vigia para espantar os maruins, mosquitinhos mordedores, perniciosamente existentes. Havia um trabalhador que chagava pela manhã e detestava o cheiro deixado pela fumaça, e repetia várias vezes a frase: “Essa ilha da fumaça”, essa ilha da ... Em tom maneiro cantarolante. E o nome da ilha das Cobras, uma mulher que gostava de imitar a famosa Luz Del Fuego ia para aquela gleba fazer magia com as rastejantes. Se há farsa nessas histórias, estou fora! Aliás, esse animal peçonhento nunca fez o meu gênero.

Quero reportar-me um pouco ao bairro de Santa Maria ao seu tempo de ilha de Santa Maria. Não fugindo à regra era ponto também de pescaria dos seus moradores e dos moradores dos bairros adjacentes. Forte São João, Romão, Alto do Cruzamento, Morro do Rio Branco e Jucutuquara, perscrutavam pescando. Num campo de futebol ali existente, a garotada aproveitava para jogar as famosas peladas. Cada garoto ganhava um nome dos ídolos do futebol do Brasil: Ananias, goleiro, ganhou o nome de Alvarez, que foi do Bonsucesso do Rio de Janeiro; Manoel Gomes de Lima ganhou o nome de Zé do Monte, centro-médio do Atlético Mineiro; Batatais, goleiro do Fluminense, deu o nome a Batan; Armandinho Paes, Jurandir do Flamengo; Aldo Guerzet, Telê, cognonimado Fio de Esperança pela torcida do Fluminense; eu era apelidado de Marraca, a razão até hoje não sei. Para a garotada de ouro tudo isso era uma festa total. O torcedor Francisquinho gostava de cantar para os meninos um samba do qual um trecho assim dizia: “Quem dá o pão dá o ensino, deixa eu educar esse menino”. Fiz uma história nesse jeito: “Que todas as pedras desde o Forte São João até Fradinhos foram nascidas do namoro subjetivo entre o morro do Penedo e a pedra dos Dois Olhos.” Risadas!... Wilker Guida fazia brincadeiras jocosas a toda hora, enquanto Carlinhos Loureiro era muito recatado para brincar.

A cidade de Vitória, Espírito Santo, está cada vez mais bonita. O prefeito Paulo Hartung, está trabalhando com destino vigoroso, com fúria e determinação. Drenagem, asfaltamento e jardinagem. Apoio ao esporte, à cultura e ao lazer. Muitos bairros lembrados e que foram esquecidos por outras administrações. O bairro Nazaré onde moro é um exemplo. A renovação do verde e a afirmativa de que natureza e cidade têm tudo a ver. Amor eternamente feito, expressão do desejo de criar algo do qual possa modificar, melhorando. O que faz acha pouco, vai fazer muito mais! Outras atitudes bonitas e altruístas deverão ser tomadas, deixando Vitória mais bonita ainda, sempre jovem, e os seus moradores ilhados, em bem-aventuranças. Água corrente que carrega o lixo e que deixa o ar puro para a respiração. Quando o espelho é bom, ninguém jamais morreu.

Todos estes registros verdadeiros recordam-nos fatos do passado, em síntese que nasce do bom senso, e que renova, em nós, paisagens vitorienses.

 

Fonte: Escritos de Vitória, 1995, Paisagem
Autor: Gilson Toscano de Brito
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro de 2014  

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