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Recordando os Bondes

Bondes - Crônica de Isaías Ramires - Acervo: Edward Alcântara

Humberto Del Maestro é, atualmente, o meu mais constante parceiro no exercício do intercâmbio cultural, "hobby" que cultuo desde os recuados e saudosos dias da juventude.

Dele, recebo, às vezes, duas correspondências, diariamente, além do "impresso" de sua seção "Literatura & Arte", publicação muito bem feita, que sempre leio· com real satisfação.

Numa dessas últimas semanas de dezembro, enviou-me ele alguns recortes de jornais diversos, juntamente com a primeira página do “Caderno Dois” de "A Gazeta" de Vitória (I-XIl-97), que trazia este título: "Sobre .os trilhos da memória". E, como subtítulo: "Este mês, a Secretaria de Cultura de Vitória lança livro sobre os bondes que circularam na Capital capixaba até a década de 60." No alto da página, esta observação do poeta: "Ramires, bem que merece uma crônica. Vamos lá!"

Realmente o bonde é uma gostosa lembrança que guardo da minha mocidade em Vila Velha (minha querida terra) e Vitória, onde estudei na saudosa Escola Normal Pedro II e no Ginásio do Espírito Santo.

Minha casa, na rua Luciano das Neves, ficava ao lado da linha de bondes. Ali, diariamente, utilizava esse meio de transporte para me deslocar até Paul, onde apanhava a barca (Santa Cecília ou Elizabeth) que me conduzia a Vitória, onde estava localizado o edifício onde, pela manhã, funcionava a Escola Normal, e à tarde, o Ginásio.

À tardinha, eu fazia o itinerário de volta, sempre utilizando o bonde e a barca, pois, ainda não havia, transporte rodoviário em Vila Velha.

Em 1949, já aqui no Rio, foi num bonde que me desloquei da estação da Leopoldina até a da Central do Brasil (Pedro II), onde embarquei num trem que me levou ao vizinho município de Nilópolis (já no Estado do Rio), onde fixei residência. Nesse tempo – saudoso tempo! – aqui ainda estava a sede do governo federal.

Quantas vezes, num bonde, fiz o percurso entre o centro da cidade (Tabuleiro da Baiana) até Copacabana! Era um passeio admirável, beirando a linda baía da Guanabara.

Nesse tempo, o Rio ostentava, com justo orgulho o epíteto que o tornou conhecido no mundo inteiro: Cidade Maravilhosa. Era uma cidade profundamente humana, alegre, onde o espírito folgazão e comunicativo do carioca se fazia sentir em todos os instantes.

O Del Maestro está coberto de razão, pois os bondes deixaram, realmente, muita saudade...

 



Fonte: Jornal “O ESPÍRITO SANTO” - “Recordando os Bondes”- 20.02.98 
Autor: Isaías Ramires
Compilação: Edward Alcântara, maio/2012 

Bonde

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