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Finalmente fotografada a tartaruga gigante

Finalmente fotografada a tartaruga Gigante - Fonte: Jornal do Brasil, Vitória-ES 1984

Muitos não acreditavam que ela existisse, mas finalmente foi fotografada, e filmada dias atrás, na Foz do Rio Doce, Espírito Santo, a tartaruga Gigante, a Dermochelys Coriacea. Trata-se de uma formidável espécie de um metro e meio de comprimento. Pode ter sido sua última foto. Atacada pelos que buscam sua carne deliciosa e ovos, a tartaruga Gigante está com os dias contados. O cientista Augusto Ruschi criou uma reserva biológica para assegurar sua sobrevivência — mas está difícil.

Os autores do filme foram os biólogos Nélson Saldanha, do Cepemar (Centro de Pesquisas do Mar) e Édson Valpassos, do IBDF, que, ao lado do Departamento de Ações Ambientais, do Governo do Espírito Santo, e ITC (Instituto de Terras e Cartografias), participam do Projeto da Tartaruga Marinha no Espírito Santo.

A Dermochelys Coriacea para os biólogos, Careba (tartaruga em Tupiniquim) Gigante ou Mole para os nativos de Regência tem seu campo de desova no Brasil somente na praia capixaba de Comboios, onde o Governo do Espírito Santo, na década de 50, por insistência de Augusto Ruschi, criou uma reserva biológica, com 10 mil hectares, para assegurar a sua sobrevivência.

Mas a depredação atingiu esse modesto núcleo de matas que foi isolado propositadamente para proteger a tartaruga Gigante. Segundo o próprio Ruschi, "inescrupulosos governantes, comprometidos com empresas depredadoras, permitiram, no decorrer dos últimos 20 anos, o corte e a ocupação da Reserva de Comboios."

As denúncias de Ruschi de que eles estavam, ao promover sua invasão, contribuindo para destruir uma rara espécie marinha, que vive em média mil anos, eram respondidas, invariavelmente, pelas autoridades estaduais com ceticismo. Eles achavam que a tartaruga Gigante, em Comboios, era uma invenção do cientista capixaba. E nos últimos 20 anos, por falta de imagem dessa tartaruga, ele foi vítima da maior campanha de difamação e descrédito por parte dos governantes do Espírito Santo.

— Quando eu afirmei — diz Ruschi agora — que ela usava Comboios para deixar os seus ovos, estava apenas revelando o resultado de alguns anos de pesquisa na região. E o crime não se perpetuou apenas contra a tartaruga, mas também contra outras espécies animal em extinção que se refugiaram dentro dessa Reserva. Acho que há necessidade de ter um Tribunal para julgar os crimes contra a natureza. Não é possível mais que fiquem impunes governantes que não fizeram outra coisa além de compactuar com a destruição do patrimônio natural.

Mas houve também a depredação do homem. Pelo menos essa circunstância ficou clara nos depoimentos dos seus habitantes, principalmente no de seu líder, o velho Elpidio Ângelo Macedo, 76 anos. A cata dos ovos da tartaruga Gigante, como da Careba Dura (para os nativos, a ciência trata de Caretta-Caretta), durante um século, foi a principal atividade econômica dessa isolada vila capixaba, que até outro dia tinha uma população de apenas 388 habitantes, mas que cresceu desmedidamente por causa da extração de petróleo. Calcula-se que chegaram para Regência, após a descoberta de óleo pela Petrobrás, mais de duas mil pessoas empregadas pelas suas empreiteiras.

A história da depredação da tartaruga Gigante pelo homem começa mesmo por volta de 1863 — quando foi fundada a vila de Regência. Sua carne servia diariamente, por ocasião do período de desova que vai de setembro a março, a todas as mesas dos seus habitantes. Seus ovos eram levados pelas Caravelas que navegavam no rio Doce às mais distantes populações mineiras. No século atual o seu consumo aumentou, principalmente depois que navios Gaiolas, mais velozes e com maior capacidade de carga e passageiros, substituíram as Caravelas na navegação do rio Doce. E a cata de ovos e o consumo de carne de tartaruga cresceram até o ano passado, quando chegou à região os biólogos do Projeto da Tartaruga Marinha.

Desde 1863 o homem mata a tartaruga "Gigante" no Espírito Santo

— Não é fácil acabar com o hábito desse povo de pegar ovos e matar tartaruga, principalmente porque tinha nessa atividade o seu principal sustento — reconhece a coordenado-ra do projeto, a bióloga Glória Brito. Mas ela está certa de que um trabalho de conscientização (já existe um projeto da bióloga Carla Furieri Loureiro) possa contribuir para uma formação ecológica. No momento, segundo Glória, eles estão, nos seus contatos diários com a comunidade, conscientizando-os da necessidade de preservar a tartaruga Gigante e Caretta até para a sua própria sobrevivência. "Mostramos que elas estão acabando porque se ataca o animal somente nos seus períodos de desova, quando ela está indefesa" — comentou a bióloga.

Na prática, contudo, a campanha de conscientização dos biólogos do Projeto Tartaruga Marinha surte, apenas, relativo efeito. Antigos catadores ainda se valem da escuridão das noites para prosseguir na cata de ovos e na matança de tartarugas. Por isso, ainda se encontram, com relativa frequência, ovos e óleo de tartaruga sendo vendidos nos bares e armazéns de Regência.

No contato com os matadores da Gigante, os biólogos tomaram conhecimento da existência de outra espécie marinha, totalmente desconhecida da ciência. Trata-se, segundo a maioria dos catadores de ovos, da Tartaruga Mole, maior que a Gigante, e diferindo dela na carapaça: é mais alta, mais mole, mas tem a mesma cor. Apesar do depoimento dos nativos, os biólogos do projeto negam a sua existência. Da Dermochelys Coriacea só existe a Gigante, ou de Serro. Não é possível -- assegura Glória Brito — que ela só tenha sido vista em Comboios, quando se sabe que também desova no Caribe e nas ilhas de Virginia, nos Estados Unidos, regiões onde nunca foram observadas.

Os cientistas contestam a descoberta dós nativos dizendo que devem ser Dermochelys deformadas, já que ocorrem muitas degenerações em espécies marinhas. "Estão sendo confundidas com uma nova espécie por causa disso" — assegura o biólogo Edson Valpassos, também do Projeto da Tartaruga Marinha.

Em Comboios, o projeto iniciou-se em outubro do ano passado. Tem vários objetivos: Avaliar a quantidade de tartarugas, quantificar as espécies, protegê-las e promover o seu repovoamento. São ,apenas duas espécies que desovam na região: Dermochelys Coriacea é Caretta-Caretta. A importante é a Dermochelys por se tratar de uma espécie diferente. Difere até na postura dos ovos. Enquanto as demais espécies desovam, em média, 170 ovos, ela não passa de 70 e assim mesmo conta com 15% de deformação, o que é raro nas outras espécies. Chegam poucas à praia. O cientista Augusto Ruschi acha que isso se deve ao desmatamento da Reserva e à depredação do homem. Previu, por isso, há 10 anos, que elas se mudariam da região por causa das novas contingências e procurariam um lugar de mata e isolado que tivesse ainda as características de rampa da praia de Comboios: bancos de areia para facilitar o acesso à praia e conformação plana de areia para permitir melhor manobra de desova. Por isso, elas passaram a desovar também no Caribe, onde encontraram condições semelhantes à de Comboios.

O trabalho já realizado com a tartaruga Gigante, em Comboios, rendeu até agora apenas 660 ovos no ano passado e 163 neste ano. O que serve para comprovar que elas ainda usam a região para a sua desova e copular com o macho. Elas atravessam, segundo os biólogos, mares profundos, cruzando de um continente ao outro. E para determinar a corrente migratória as espécies que desovam em Comboios estão sendo marcadas com plaquetas.

 

Fonte: Jornal do Brasil, Vitória - ES, 02/02/1984
Arquivo: Instituto Jones dos Santos Neves
Compilação: Walter de Aguiar Filho, 2018

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