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Gil Vellozo - Jornalista aos 14 anos

Jornal O Continente, Vila Velha 01 de maio de 1954 - Redator Chefe: Antônio Gil Vellozo e Diretor: Walter de Aguiar

A caravana da Aliança Liberal continuou percorrendo o País com seus comícios. Quando veio a eleição, apesar de todas as previsões, o resultado foi favorável ao paulista Júlio Prestes, o que levou a Aliança Liberal a denunciar a ocorrência de fraude. Em seguida, veio o assassinato do candidato a vice-presidente de Getúlio Vargas, João Pessoa, na Paraíba. Esses fatores tiveram como consequência a revolução de 1930, a deposição de Washington Luiz e a nomeação de Getúlio como chefe do Governo Provisório. Uma nova era política começou no país, a Era Vargas.

No ano seguinte ao sangrento episódio do Largo do Carmo, Antônio Gil Vellozo começou a trabalhar como foca (aprendiz de repórter) em A Gazeta, com apenas 14 anos. Ajudado pelo fato de ser filho do dono de jornal, foi logo enviado ao Rio de Janeiro para cobrir um acontecimento que chamou a atenção do Brasil: a chegada do hidroavião Dornier DO-X. Também chamado de Flugschiff (Barco Voador em alemão), com 12 motores, esse hidroavião era o orgulho da aeronáutica germânica, apesar de ter sido construído na Suíça, fato que a própria Alemanha fazia questão de divulgar. Maior hidroavião até então projetado, o aparelho foi construído na Suíça para burlar o Tratado de Versalhes, que a Alemanha fora obrigada a assinar após a derrota na Primeira Guerra Mundial. Além de impor ao Governo alemão o pagamento de uma pesada indenização de guerra, o tratado proibia o desenvolvimento da indústria aeronáutica daquele país. Foi para ver as demonstrações desse avião que Vellozo foi enviado ao Rio.

Esse início de carreira na histórica redação de A Gazeta, instalada na Rua Duque de Caxias, Centro de Vitória, foi lembrado muitos anos depois, quando da sua morte, pelo amigo Guilherme Santos, numa imaginária “Carta para o Céu” [1]: “[...]. Já pela madrugada, começava a impressão. Já clareando o dia, íamos tomar média com pão petrópolis torrado. Eu não fazia isso todos os dias, mas você, todas as noites, sempre chegava de madrugada”.                 

Antônio Gil também escrevia crônicas para o semanário O Bisturi, de Vila Velha, onde foi colega de Jair Amorim, que viria a se tornar um dos grandes nomes da Música Popular Brasileira tendo Evaldo Gouvea como parceiro. O bolero Alguém Me Disse – anos depois gravado por Gal Costa – foi um dos maiores sucessos da dupla.

Vellozo foi também empresário, embora não se possa dizer que tenha sido bem sucedido. Fundou o jornal O Continente, que imprimia em gráficas de terceiros e onde fazia de tudo: redigia quase todo o jornal (incluindo poesias publicadas sob pseudônimo), fazia a revisão dos textos, vendia anúncios e assinaturas.   Por fim, fazia a distribuição do jornal nas bancas, numa multiplicidade de tarefas que deixava o amigo e ex-deputado federal Oswaldo Zanello perplexo:

"Quantas vezes o encontrei sobraçando pesados pacotes de O Continente para entregá-los nas bancas de jornal. Trabalho hercúleo de um idealista incomparável. Milagre de fé e de esperança em dias melhores. Mas até hoje ninguém conseguiu entender como Gil Vellozo, em sua extrema pobreza, conseguia manter em circulação O Continente " [2].

Fundador da Associação Espírito Santense de Imprensa, foi também um dos primeiros membros da Academia Humberto de Campos de Letras e da Associação Espírito-santense de Letras. No Diário Oficial do Espírito Santo, ocupou o cargo de redator chefe. Mesmo exercendo o jornalismo e participando da vida intelectual do Estado, Antônio Gil Vellozo conseguiu formar-se em contabilidade e ainda encontrou tempo para ser corretor e proprietário de uma companhia de seguros e imóveis.

Era casado com Zita Botelho Vellozo, sua companheira de toda a vida que lhe deu três filhos: Angela Maria, Luiz Adolpho e Beatriz Helena. Era marido dedicado e pai sempre próximo. Em 1963, todos se mudaram para Brasília, onde Vellozo cumpriria seu mandato de deputado federal, tragicamente interrompido com o acidente automobilístico que ceifou sua vida.

Sua filha Ângela Maria Vellozo Taddei guarda emocionadas recordações do pai: “Nas reuniões familiares, nos passeios, na praia, nos clubes, ele sempre animava a todos com o seu jeito extrovertido. Tinha uma voz muito entoada e cantava enquanto eu o acompanhava ao violão. Era amoroso, amigo, alegre e muito querido pelos filhos”.

Beatriz Helena Vellozo Luz (a caçula) relembra “com saudade os bons e inesquecíveis momentos vividos com ele” em sua infância (Vila Velha)e na adolescência (Brasília).

Luiz Adolpho era inteligente, culto, alegre, amigo e aluno brilhante. De convivência amena, gostava muito de conversar sobre assuntos que iam desde a cultura regional até a política internacional. Também possuía o espírito desprendido e o calor humano do pai.

 


[1]  SANTOS, Guilherme. Carta para o céu. Jornal de Vila Velha. Vila Velha, 15 abr. 1966.

[2] BRASIL. Câmara dos Deputados. Diário do Congresso Nacional. 9 mar. 1966.

 

Fonte: Coleção Grandes Nomes do Espírito Santo - Antônio Gil Vellozo, 2013
Texto: Roberto Moscozo
Coordenação: Antônio de Pádua Gurgel/ 27-9864-3566 
Onde comprar o livro: Editora Pro Texto - E-mail: pro_texto@hotmail.com - fone: (27) 3225-9400

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