O Jacaré Encantado - Por Adelpho Monjardim
Na Avenida Nossa Senhora da Penha, lado esquerdo, dirigindo-se para o Aeroporto, até princípios dos anos 60, existia um rochedo que se caracterizava por maravilhosa obra-prima da natureza: um jacaré de granito. Não era alto o rochedo, seis ou oito metros. Rocha esfoliada, de péssima qualidade, era apenas um plinto. Rodeando o topo, quase fechando o círculo, via-se enorme jacaré esculpido na própria rocha. Perfeito da cauda à cabeça. Ao vê-lo, à primeira vista, tinha-se a impressão de um animal vivo.
Conforme a lenda, o jacaré perseguia jovem índia, filha do poderoso cacique tupiniquim. Vendo-a na iminência de ser devorada pelo terrível caimão, o pajé petrificou-o por artes mágicas.
Obra da natureza, tão primorosa, merecia ser preservada. mas entre nós não existe o amor ao belo, que ao menos por decoro deveríamos respeitar.
A título não sabemos de quê, o proprietário do terreno dinamitou a pedra, pulverizando a maravilha ali colocada a milênios.
Não obstante, o vandalismo campeia solto contra os monumentos da natureza, sem que os poderes competentes ponham cobro a tais práticas, atentatórias à nossa própria cultura. E dizem existir órgão especializado de assistência à natureza.
Ali, na mesma região, a Pedra da Gamela, imensa e imponente e que à paisagem empresta singular encanto, está sendo demolida para que se transforme em paralelepípedos! Trágico e inglório fim. Destrói-se o que de belo integra o privilegiado cenário e o anedotário local, através de pitorescos fatos, para reduzi-lo a um refugado tipo de calçamento repudiado pelas cidades modernas e progressistas.
Lembrando a geométrica figura de um trapézio, a Pedra da Gamela é uma das grandes formações rochosas de Vitória. A face morena, antes de ferida pela dinamite, pelo imponente e majestoso aspecto atraía a atenção de todos. Hoje o âmago, a massa compacta da rocha está exposta como imensa e dolorosa chaga, contrastando com o que ainda se conserva intacto. Cavaram-se em seus flancos alucinantes abismos.
Há quarenta anos a Gamela era celebrado recanto da macumba. Ali se amiudavam os “terreiros”, quando as suas noites se transformavam em autênticos sabás, com as bruxas soltas. Mestre Pedro e a negra Honorata, os ases da mandinga. Muita gente boa freqüentava os «terreiros», mormente nas efervescências políticas. Caminhando as coisas para um novo Canudos, a polícia pôs cobro ao abuso.
A Pedra da Gamela tem nome na História da Ilha, embora não tenha sido preservada do vandalismo dos utilitaristas, infensos a qualquer sentimento que não represente o lucro imediato. Para eles o dinheiro acima de tudo. História, Tradição, Passado, são inócuas concepções burguesas, sem finalidades e que não enchem barriga.
Fonte: O Espírito Santo na História, na Lenda e no Folclore, 1983
Autor: Adelpho Poli Monjardim
Compilação: Walter de Aguiar Filho, outubro/2015
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