Primitivos Aldeamentos após a morte do 1º Donatário - Por Mário Freire
Ao falecer o primeiro donatário, supria o padre Bráz Lourenço a falta do vigário, em Vitória. Coube-lhe, então, trazendo alçado o estandarte de Santiago, padroeiro da igreja dos jesuítas, animar os moradores durante uma invasão de franceses, em 1561. Ajudou-os decisivamente uma nau portuguesa, vinda de S. Vicente. Haviam os invasores aportado em duas grandes naus, bem artilhadas. Nessa época, sem fortaleza, Vitória contava apenas poucos moradores, em casas cobertas de palha. Fez os invasores retrocederem um tiro certeiro de falcão, ao lume d’água, em uma das naus...
O desânimo que a todos ia empolgando, na Capitania, não atingia, felizmente, os jesuítas. Entretanto desde que, desaparecidos os primitivos engenhos de açúcar, tornara-se desinteressante a vinda, até o Espírito Santo, de embarcações provenientes do Reino. Chegaram, por isso, a sofrer até falta do vinho indispensável às missas. Na própria igreja, ainda sem quaisquer ornamentos, ficaram também muito desprovidos de paramentos.
A esse tempo, com os padres Brás Lourenço e Fabiano de Lucena trabalhavam apenas quatro noviços e irmãos, aproveitados em trabalhos de horta e encargos da cozinha. Conseguira o padre Fabiano reunir cerca de mil índios em uma aldeia, onde ergueu um templo a N. S. da Conceição; não devia ficar muito longe, pois, levado em almadia, por meninos do Colégio, diariamente a visitava.
Meia légua adiante, ficava a de S. João, próxima da dos Reis Magos, onde na Residência jesuítica, concluída no primeiro lustro do século XVII, os noviços chegados da Europa vinham praticar o tupi a fim de servirem como missionários. Voltavam-se, na mesma ocasião, os jesuítas para o sul, e instalavam-se em Guarapari onde figura mais uma Residência no principio do mesmo século. Ao sul, ficava o grande aldeamento de Reritiba, donde o padre Antônio Dias organizou uma "entrada", antes que o padre Anchieta viesse a falecer nessa aldeia em 1597.
A passagem desse venerando apóstolo, com Cardim e Cristovão de Gouvêa, por uma povoação do norte da Capitania, a 22 de Setembro de 1583, dia de S . Mateus, fez darem esse nome à localidade.
De uma aldeia, apenas, que tinham em 1558, para as bandas do Itapemirim, passaram a dez, ao findar esse primeiro século da colonização, das quais 4 ao norte, e 6 ao sul.
Breve, apoiados nos tupiniquins, irrompiam, mesmo sem temer os aimorés, em pleno sertão, no Serro Frio!
Viajando para o sul, - o Governador Geral adoeceu, e teve de permanecer em 1566 nesta Capitania, onde esteve à morte.
De volta do Rio, Mem de Sá ainda uma vez socorreu, em 1568, esta donataria, pois encontrou o gentio novamente "alevantado". Previra-o padre Nóbrega, ao profligar a persistência do abuso dos colonos adquirirem indígenas ou peças, para vendê-los como escravos. Essa prática estava levando alguns pobres índios a venderem-lhes até os próprios parentes...
Estava o Espírito Santo reduzido ao funcionamento apenas de um engenho, quando, em 1570, o malogrado D. Sebastião proibiu escravizar indígenas.
Após o falecimento do primeiro donatário, lastimavam todos não tivesse o filho, Jorge de Melo, assumido a donataria: — pouco favorecida de El-rei, porque alheia, esta Capitania, por ser pobre, não o era também do próprio dono!...
Falecendo esse, herdeiro sem descendência, assumiu o governo, em 1571, outro filho do Fundador, de nome igual ao do pai, porém, legitimado: esse fato provocou um demorado pleito judicial.
No Livro do Tombo de Nova Almeida, há uma sesmaria concedida por ele, aquém do rio Caraipe, com a data de 1565; e outra, de 1575, no caminho de Urubuquiçaba, até o de Caraipe, ambas para os lados onde os jesuítas estabeleceram as aldeias dos Reis Magos e S. João. Residindo na vila do Espírito Santo, o mesmo Governador firmou, em fevereiro de 1576, uma sesmaria no lugar Boa Vista, depois transferida aos monges de S. Bento, na mesma vila.
Reclamadas para outras missões a energia e a tenacidade de Brás Lourenço, veio substituí-lo o Padre Manoel de Paiva, trazendo dois outros jesuítas: foram os iniciadores, nesta Capitania, dos trabalhos de fiação por tecelões.
Vitória, em 1572, quando dividida em dois governos a administração da colônia, contava 1 390 "fogos" ou habitações; e Vila Velha, apenas, 145. Quanto à população, as informações dessa época, fornecidas geralmente por padres, abrangiam somente pessoas de comunhão.
Durante o qüinqüênio em que o Brasil esteve dividido em dois governos, ficou o Espírito Santo, como a Capitania de Porto Seguro, na Repartição do Sul.
Fonte: A Capitania do Espírito Santo, ano 1945
Autor: Mário Aristides Freire
Compilação: Walter de Aguiar Filho/ maio/2015
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