Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

História da Festa da Penha

Tela de Therezinha Botelho de Aguiar

A FESTA DA padroeira dos capixabas, desde os mais remotos tempos, sempre foi o principal acontecimento religioso de Vila Velha. Tanto que, a partir de 1844, segundo a Lei nº 7, de 12 de novembro do mesmo ano, o dia da Festa da Penha passou a ser considerado feriado em toda a Província do Espírito Santo.

Até julho de 1910, por não existir luz elétrica na cidade, os moradores colaboravam colocando lampiões, à noite, nos peitoris das janelas ou pendurados nas fachadas das casas. O objetivo era orientar os romeiros retardatários para que não perdessem a direção da Prainha, onde eram aguardados pelas embarcações que os levariam de volta à Capital.

Durante o dia o movimento era intenso, com os devotos subindo e descendo a “ladeira da penitência”, com setecentos e oitenta e cinco metros de extensão, até então a única via de acesso ao Santuário da Penha.

Algumas pessoas traziam alimentos de casa e faziam o seu repasto no Campinho do Convento, na parte sombreada pelas árvores. Outros se alimentavam nas pensões improvisadas pelos moradores da cidade.

Já nas primeiras horas da manhã, a enseada da Prainha ficava coalhada de embarcações fundeadas: canoas, lanchas, escunas e pequenos barcos de uma só vela ou a remos.

No largo da matriz, centenas de animais de montaria ficavam à sombra de castanheiras. Vinham do interior mais distante da cidade. O certo é que os devotos de Nossa Senhora nesse dia não podiam deixar de escalar o outeiro para visitá-la, formular milagres ou pagar promessas.

A partir de 1774, quando se fez a reforma da ladeira de pedras toscas, com a construção dos muros laterais, e se ergueu o portão ornamental, passaram os romeiros a ter acesso mais fácil ao topo da colina.

Nas duas semanas anteriores ao dia da padroeira, membros da sociedade local reunia-se com a presença e a orientação do capelão do Convento. Quase sempre as mesmas senhoras dos anos anteriores formavam a comissão organizadora dos festejos. O importante era demonstrar a hospitalidade dos vila-velhenses, possibilitando aos visitantes, de acordo com os recursos disponíveis da época, uma estada confortável. E não podia ser diferente visto que os romeiros, às vezes com grande sacrifício, mas radiantes de alegria, vinham de grandes distâncias para homenagear a padroeira dos capixabas. Portanto, mereciam ser bem recebidos.

A comissão mantinha contatos com famílias dispostas a fornecer refeições aos visitantes que não haviam trazido de casa o seu farnel e em algumas situações poderiam até oferecer abrigo aos que fossem forçados a pernoitar na cidade.

Competia também à comissão: limpeza da imagem de Nossa Senhora e de suas vestes, troca ou lavagem das toalhas do altar, substituição dos círios usados por novos, enfim, todo o trabalho necessário ao embelezamento do Santuário.

Na antevéspera da festa, voluntários se apresentavam para a limpeza da “ladeira da penitência”, varrendo as folhas secas que caíam da mata.

O coro do Convento ensaiava exaustivamente para se apresentar bem afinado na hora das missas e durante as novenas que antecediam o dia da padroeira.

Para não fugir à regra, as donas de casa procuravam ornamentar a cidade e para isso colocavam bonitas toalhas bordadas ou de rendas nos peitorais das janelas para provocar a admiração dos visitantes.

Durante meses moças e rapazes faziam economia para vestir uma roupa nova na comemoração da padroeira. Era uma antiga tradição da qual os moradores da cidade não abriam mão.

Assim era a festa da Penha nos últimos anos do século XIX e na primeira década do século XX. Um acontecimento singelo e bonito, impulsionado exclusivamente pela fé dos devotos na senhora do alvo mosteiro.

Mas nem sempre foi assim, com a simplicidade e a pureza que devem marcar os eventos cristãos.

Em meados do século XIX, sob o teto da casa dos romeiros, a pretexto de se comemorar o dia da padroeira, pessoas endinheiradas, mas inescrupulosas, transformavam o local em casa de banquetes e de tavolagem. Empanturravam-se de comidas e bebidas e em seguida varavam a noite em torno da roleta ou debruçados sobre as mesas de carteado.

Sem respeitar o terreno santo em que pisavam – sim, porque não eram devotos, eram festeiros profanos – nenhuma importância davam aos homens simples do povo que, na sua maioria, sem dinheiro para se alimentar, escalavam o morro com fome, mas com fé, cantando hinos de louvor a Deus e a Nossa Senhora da Penha.

Reformada no período de 1774 a 1777, a casa dos romeiros, como vimos, durante algum tempo teve sua finalidade deturpada. Foi parcialmente destruída por um vendaval em outubro de 1864. Assim terminaram as festas profanas e a jogatina.

Tal acontecimento deu origem à lenda segundo a qual aquele que reconstruísse a casa dos romeiros, estigmatizada por servir durante tantos anos a atividades profanas, logo morreria. Também os operários que trabalhassem nas obras de reconstrução seriam vítimas de acidentes. Padre José Ludwin, que a partir de 1916 foi o capelão do Convento, resolveu desafiar a lenda e em 1920 autorizou a reconstrução da casa dos romeiros, cuja ruína parcial prejudicava no todo a aparência do Convento. Desfez-se a lenda sem nenhuma conseqüência danosa.

 

Livro: Vila Velha: seu passado e sua gente, 2002
Autor: Dijairo Gonçalves Lima
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2012

Convento da Penha

Da Carta de Anchieta de 1584 – Por Norbertino Bahiense

Da Carta de Anchieta de 1584 – Por Norbertino Bahiense

As CARTAS JESUÍTICAS constituem fontes preciosas da história do Brasil nascente. Entre elas, vamos buscar uma de Anchieta, do ano de 1584

Pesquisa

Facebook

Matérias Relacionadas

Todos os motivos nos levam à Festa da Penha

Desde 1570 comemoramos a Festa da Penha oito dias após a Páscoa. Ela é a festa cristã pioneira da América

Ver Artigo
Festa da Penha – Por Maria da Glória de Freitas Duarte

A Festa tinha duas bandas de música locais, “Filofênica da Penha" e "Aliança Progressiva". Enquanto uma tocava no terraço do Convento, a outra funcionava em baixo, na cidade 

Ver Artigo
A origem do calendário da Festa da Penha - Por Roberto Abreu

Como o calendário da Igreja obedece o ciclo lunar, o calendário civil vinha dando uma discrepância na marcação das datas das festas de suma importância, como por exemplo:a Festa da Páscoa

Ver Artigo
A Festa da Penha

A primeira Festa da Penha foi realizada ainda em vida de Frei Pedro Palácios. Escolheu ele a segunda-feira depois da dominga de Pascoela, dia consagrado à devoção franciscana de Nossa Senhora dos Prazeres

Ver Artigo
Festa da Penha (2005) - Por Mônica Boiteux

Em tempos idos, a Festa da Penha era o maior evento das Famílias de Vila Velha. Rendas brancas e flores nas janelas, as casas da Prainha se arrumavam para saudar a passagem da Santa

Ver Artigo
Novena em Louvor de Nossa Senhora da Penha

ORAÇÃO PREPARATÓRIA (para cada dia da novena) 

Ver Artigo