A criação da Vale - Parte II (História da Vale)
Os Acordos de Washington e a criação da Companhia Vale do Rio Doce
Quando a década de 1940 se iniciou, a Segunda Guerra, antes apenas anunciada, já era uma dura realidade. As potências ocidentais buscavam vias alternativas com vistas ao fornecimento de matéria-prima para a indústria bélica, principalmente o ferro. O Brasil, que até aquele momento ainda não conseguira solucionar seus problemas básicos de exportação de minério, encontrou a oportunidade propícia para definir sua posição no mercado mundial. Nessa definição, a assinatura dos Acordos de Washington teve papel fundamental.
Firmados em 3 de março de 1942 e tendo como signatários os governos do Brasil, da Inglaterra e dos Estados Unidos, os Acordos de Washington definiram as bases para a organização, no Brasil, de uma companhia de exportação de minério de ferro. Pelos acordos, o governo britânico se obrigava a adquirir e transferir ao governo brasileiro, livres de quaisquer ônus, as jazidas de minério de ferro pertencentes à Itabira Iron Ore Co. A essa altura, as propriedades da Itabira Iron Ore Co., todas localizadas no município de Itabira, eram as seguintes: Cauê, Serra da Conceição, Dois Córregos, Dirão e Onça, Itabiruçu, João Coelho, Borrachudo, Santana, Sumidouro, Campestre-Manuel Anastácio e Rio do Peixe. Esse conjunto somava mais de 74 milhões de metros quadrados.
O governo norte-americano ainda se comprometia a conceder um financiamento no valor de US$ 14 milhões, por meio do Eximbank. Esses recursos seriam utilizados para a compra, nos Estados Unidos, de equipamentos, máquinas e serviços necessários ao prolongamento e restauração da Vitória a Minas e ao aparelhamento das minas de Itabira e do Porto de Vitória.
O pacote, de um modo geral, tinha como objetivo assegurar produção, transporte e exportação de 1,5 milhão de toneladas anuais, a serem compradas, em partes iguais, pelos Estados Unidos e pela Inglaterra, por um prazo de três anos, a preços bastante inferiores aos de mercado. O contrato trienal poderia ser renovado até o fim da guerra. Terminado o conflito e cumprido o último contrato trienal,
Estados Unidos e Inglaterra ainda manteriam o direito de aquisição do minério, já então a preços de mercado livre.
O governo brasileiro finalmente encamparia a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) e promoveria o reaparelhamento do complexo produtivo, por meio da criação de uma companhia encarregada da extração, do transporte e do embarque do minério de Itabira.
A empresa seria administrada por diretores brasileiros e norte-americanos, até que, pagas todas as promissórias referentes ao empréstimo e liquidadas as suas obrigações, a exploração das minas reverteria integralmente para o governo brasileiro.
Em abril de 1942 foi constituída a Comissão Especial para a Regulamentação dos Acordos de Washington, com o objetivo de apresentar um relatório tratando da exploração, do transporte e da exportação de minério de ferro. Depois de aprovado o relatório e ratificados os acordos pelos governos brasileiro, norte-americano e britânico, o presidente Getúlio Vargas baixou o Decreto-Lei no 4.352, de 1o de junho de 1942, e definiu as bases nas quais seria organizada a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e encampadas as empresas Companhia Brasileira de Mineração e Siderurgia S.A. e a Companhia Itabira de Mineração. Os acionistas da primeira seriam indenizados em dinheiro pelo Governo Federal; além disso, seria rescindido o contrato relativo à remodelação e ao prolongamento da EFVM, celebrado em junho de 1940 entre a Mineração e Siderurgia e a União. Os acionistas da segunda companhia, que ainda se encontrava em organização, seriam igualmente indenizados. No valor a ser pago estavam computados os estoques de minério, as instalações, e os veículos e utensílios de sua propriedade.
Até a organização definitiva da CVRD, os bens incorporados ao patrimônio da União seriam administrados por um superintendente. O Governo Federal nomeou para o cargo o engenheiro Israel Pinheiro, secretário de Agricultura de Minas Gerais e membro da Comissão Especial.
Fonte: Vale 70 anos: Nossa História, 2012
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2013
GALERIA:
Em 1º de junho de 1942, o Brasil estava imerso em uma crise institucional que tinha como ponto central a decisão sobre a entrada do país na Segunda Guerra Mundial
Ver ArtigoA CVRD seria constituída como uma sociedade anônima, de economia mista, com capital inicial de 200 mil contos de réis. Sua diretoria seria composta por cinco membros: um presidente e dois diretores de nacionalidade brasileira e mais dois diretores norte-americanos
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