A imprensa na juventude - Por Luiz Buaiz com texto de Sandra Medeiros
Transitando entre os muitos segmentos sociais de Vitória, Luiz Buaiz não apenas lia as publicações locais, mas convivia – mais ou menos intensamente – com fundadores, colaboradores e dirigentes das publicações capixabas. Ele rememora: “Vitória tinha alguns jornais, poucas revistas... A Gazeta, A Tribuna, O Diário... Das revistas, a que circulava mais era a Vida Capichaba”. Vida Capichaba, uma das publicações de maior duração no Espírito Santo, importante veículo de informação, circulou ao longo de 34 anos, de 1923 a 1959. “Acabou quebrada. Na época, estava à frente Élcio Álvares, que chegaria a governador do estado”, lembra Luiz Buaiz.
Ele fala também de outra publicação, a Revista Chanaan: “A Chanaan era do irmão do Américo Madeira, um grande amigo do Dr. Coimbra (o Dr. Coimbra tinha consultório na Nestor Gomes...). Carlos Madeira era o dono da Revista Chanaan. Essa foi efêmera. O Carlos Madeira era muito vaidoso, vaidosíssimo, a revista mostra isso.” De fato, a revista destacava-se não apenas pelo conteúdo, mas porque, composta e impressa tipograficamente, apresentava um resultado de alta qualidade. Era uma publicação sofisticada. Sua diagramação inovadora, a preocupação em utilizar modernos recursos gráficos, tudo mostra uma qualidade pouco comum. Madeira, por exemplo, utilizou prata e dourado na capa. Isso impressiona até hoje.
Além dessas duas, Vitória contou ainda, nos anos 30, com a Revista Bonde Circular. Dessa Luiz Buaiz, então muito pequeno, não se recorda.
Jornais, ele se lembra de muitos. Sabe da existência de jornais interioranos, que pouco chegavam a Vitória, e que marcaram as primeiras décadas do século passado, entre eles A Opinião, de Anchieta; O Alegrense, de Alegre, que chegou a ser dirigido pelo seu amigo Vicente Caetano; O Alcantil, de Cachoeiro, que tinha à frente Júlio Leite; e Lábaro da Paz, de Villa do Calçado. Este tinha tipografia própria.
A imprensa capixaba não vivia isolada. Era comum jornalistas da capital federal, Rio de Janeiro, virem ao estado para confraternizações, ou, exatamente como hoje, para cobrir fatos de grande repercussão, um deles foi o tremor de terra em Vitória, em 1955, que alcançou 6.1 na Escala Richter.
A maioria das oficinas e redações dos jornais ficava na Jerônimo Monteiro: Diário da Manhã, A Tribuna e Diário da Tarde estavam instalados na principal avenida da cidade. Já A Gazeta tinha sua oficina na General Osório. Uma fonte segura de notícias era a Chefatura de Polícia, durante anos comandada por Dr. Bulcão, Orlando Bulcão Vianna. A frota da Rádio Patrulha estava sempre detendo alguém.
Com A Gazeta ele tinha maior ligação, como recorda: “Quantas vezes eu passei a tarde toda na Gazeta conversando com Eugênio Queiróz, com aquela turma toda.”
Mas não havia apenas jornais e revistas na cidade. Luiz Buaiz lembra o surgimento das emissoras de rádio no Estado: “A primeira rádio que teve no Espírito Santo foi a Rádio Chanaan, que Afrodízio Coelho, um sujeito que tinha uma papelaria, montou. Naquele tempo ouvir rádio era uma loucura... Era um megafone desgraçado... Depois disso veio a Sociedade Rádio Clube do Espírito Santo, criada em 1935, que começou a funcionar em 39. E ele fazia parte do grupo que criou a Espírito Santo.”
A PRI-9, Rádio Clube do Espírito Santo, a Voz de Chanaan, teve festa de inauguração no Teatro Glória. Uma festa suntuosa, com Carlos Galhardo e Lolita França. E muitos artistas locais: a Orchestra de Clóvis Cruz, Bento Machado, o primeiro cantor da PRI-9, Jair Amorim, o Trio Capixaba e o regional da rádio: Luiz Noronha, Cícero Dantas, Nelson do Pandeiro, Claudionor, Jefa, Maurício e José de Oliveira e Odil do Clarinete.
Disputava audiência com a Rádio Nacional. Principalmente nos anos 50 e 60, quando a cidade – e grande parte do Brasil – parava para ouvir Jerônimo, o Herói do Sertão, e O Direito de Nascer. Todos sofriam com o drama de Albertinho Limonta.
As rádios locais tiveram programas de auditório, programas de grande audiência, e músicos e cantores que fizeram história, como os próprios nomes que estiveram na inauguração da PRI-9, que tinha auditório e estúdio na Rua Araribóia, no Centro. A Espírito Santo já foi um portento! Seus programas de auditório repercutem até hoje. Fazia rádionovela (A Vida de Anita Garibaldi, A Vida de Santa Rita de Cássia, O Último Beijo), levava ao ar programas de humor, de esporte e de auditório. Era uma estrutura equivalente, hoje, à de grandes redes de comunicação: chegou a ter 800 funcionários. Em 1950 ganhou alcance nacional e internacional, ao inaugurar um transmissor de 10 kw de potência. Ultrapassou as ondas sonoras do território nacional, atingiu a costa da África, alguns países da América Latina e parte da Europa.
Esse alcance foi o que trouxe a Vitória Cauby Peixoto, Agostinho dos Santos, Angela Maria, Linda e Dircinha Batista, Roberto Carlos, Vicente Celestino, Marlene, Francisco Alves, Silvio Caldas, Elizete Cardoso, Zé Trindade e Elza Soares, mas também Lucho Gatica e Gregório Barrios.
Os programas da Espírito Santo marcaram época: Bóris Castro Comanda o Espetáculo, Na Polícia e nas Ruas (que elegeria o governador Gerson Camata e que teve um segundo nome, Ronda Policial), Paraíso Infantil e Jairo Maia. Nesse auditório se apresentou Altemar Dutra, capixaba que ganhou o mundo: da PRI-9 iria para São Paulo e seria sucesso nacional.
Anos depois surgiria a Rádio Capichaba, que funcionou por muito tempo no Convento de São Francisco – onde ficava também a Arquidiocese – na Cidade Alta.
Depois das rádios, vieram as emissoras de televisão. A primeira a chegar ao estado foi a TV Tupi. Ficava no Edifício Moisés, na Avenida Jerônimo Monteiro. Luiz Buaiz mostra, através de uma conversa com o amigo e empresário Eugênio Queiróz, a diferença estrutural entre o jornal e a televisão: ele fala do momento que antecedeu a inauguração da TV Gazeta e da confissão do amigo, que lhe disse: “Luiz, eu tou inaugurando a TV com medo porque televisão é tempo. É diferente de jornal em que, se dá problema, você encaixa uma coisa, outra...”
E lembra, saudoso, de quando ia à redação conversar com os amigos jornalistas sobre os fatos que estariam nas páginas do dia seguinte.
PRODUÇÃO
Copyright by © Luiz Buaiz – 2012
Coordenação do Projeto: Angela Buaiz
Captação de Recursos: ABZ Projetos
Texto e Edição: Sandra Medeiros
Colaboraram nas entrevistas:
Leonardo Quarto
Angela Buaiz
Ruth Vieira Gabriel
Revisão: Herbert Farias
Projeto e Edição Gráfica: Sandra Medeiros
Editoração Eletrônica: Rafael Teixeira e Sandra Medeiros
Digitalização: Shan Med
Tratamento de Imagens: TrioStudio; Shan Med
Fonte: Luiz Buaiz, biografia de um homem incomum – Vitória, ES – 2012.
Autora: Sandra Medeiros
Compilação: Walter de Aguiar Filho, novembro/2020
Plinio Marchini. Escritor e publicista. Dirigiu vários jornais no Estado, estando atualmente à frente do matutino “O Diário”
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