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A Origem da Capela de Nossa Senhora – Por Maria Stella de Novaes

Primeira Capela no alto da Penha - Pictórico - Imaginativo de Luíza Celina Valdetaro

Crescia a concorrência do povo às horas da prece, na capelinha de São Francisco, o templo cujas ruínas ainda podemos apreciar, na orla do Campinho. Urgia ampliá-la; mas, o piedoso irmão resolveu executar o seu plano: – fazer a capela de Nossa Senhora.

Vieram-lhe ao encontro muitas pessoas prestimosas de Vila Velha e seu particular amigo Melchior de Azeredo, rico fidalgo e Provedor da Fazenda Real, de Defuntos e Ausentes, além de Braz Pires e Amador Gomes. E, na alma do povo, permaneceram as "histórias contadas", resultantes, quem sabe de criações imaginárias. Conta-se, por exemplo, que iniciada a construção da ermida, sobreveio a seca. Rios, fontes e lagoas secaram! Nem para beber, os operários encontravam água! ... Pedro Palácios não desanimou. Prosternou-se no rochedo ardente, batido pela plenitude do Sol. Rogou à Virgem Santíssima que se compadecesse daqueles homens desejosos de servi-la. Brotou, imediatamente, água na pedra e durou, enquanto prosseguiram os trabalhos, nos quais se empregou óleo de peixe na argamassa, conforme se usava, naquele tempo.

Segundo, porém, uma notícia antiga, o frade levantou, junto à rocha, uma cisterna ou depósito das águas pluviais. Projetou a obra, modelada pelo Bom Jesus de Sintra. (A Província, 22-4-1851).

Mas, a história da água, semelhante, aliás, à encontrada noutros santuários de Nossa Senhora, resultantes de revelações místicas, perdurou. Ainda, em princípios deste Século (1906), vimos, em Cachoeiro de Itapemirim, vidrinhos de Água de Nossa Senhora da Penha, em mãos de pessoas que visitaram o Convento. Deparou-se-nos, depois, a oportunidade de observar, em, 1907, um pequeno depósito, numa escavação natural da rocha, na base do edifício, quase à entrada da capela — a Fonte de Nossa Senhora. Nos trabalhos realizados, em 1910, pelo Cônego João Maria Cochard, verificou-se, porém, a existência de um sistema de captação das águas meteóricas, no telhado, recurso, aliás, muito usado, antigamente.

Dom Fernando de Sousa Monteiro proibiu que se distribuísse "Água da Penha" aos romeiros.

Justificam-se, portanto, as variações de volume da fonte, e que eram, erroneamente, atribuídas a atos ignominiosos, praticados naquele sítio sagrado.

Desde que tratamos do Santuário da Penha, sob o ponto de vista histórico e folclórico, devemos registrar todos os aspectos em que é visto pela Fé e pela imaginação do povo, sem demérito, quanto à verdade histórica.

No lugar da Fonte de Nossa Senhora, construiu-se, depois, uma caixa, ou depósito, que podemos ver, à esquerda, acima da Casa dos Romeiros.

Além dessas tradições, recolhemos outra sobre o ocorrido, durante a construção da ermida. Um operário, pedreiro, perdera o equilíbrio, num andaime, enquanto trabalhava. Ficara, porém, "parado na queda", a um sinal de Pedro Palácios, até que lhe atirassem uma corda, para salvar-se de morrer esfacelado contra a parte mais íngreme do rochedo.

Levados aos ombros os materiais, até o Campinho, daí para cima, iam sirgados, pela força muscular.

Desse modo, construiu-se a ermida, iniciada, em 1566.

Colocou-se o painel, no lugar predestinado, entre as duas palmeiras cuja existência foge à fantasia lendária. Ainda, em 1910, quando o Cônego João Maria Cochard exercia o cargo de capelão da Penha referia-se, admirado, aos "restos ou vestígios, sob o altar mor", encontrados pelo marceneiro Pinin, de quem falaremos adiante. (Não eram grelos, como o afirma Gomes Neto. Definhando-se, com o tempo, os estipes não brotavam; os grelos das palmeiras são os brotos ou palmitos).

Pedro Palácios providenciou, depois a troca de uma imagem de vulto (das que se esculpiam na Península Ibérica), para o pequeno templo de Nossa Senhora. Conta-se, então, que a pessoa encarregada de trazê-la de Portugal se esquecera da encomenda; foi surpreendida, porém, pela entrega de um volume, por um desconhecido, na véspera ou no dia da partida do vapor para o Brasil. Abrindo o invólucro, se lhe deparou a imagem, de acordo com as indicações do religioso. E não encontrou explicação para o caso.

Essa é a lenda. Segundo, porém, Frei Agostinho de Santa Maria, no "Santuário Mariano", a cabeça e os braços da imagem de Nossa Senhora, e o Menino Jesus vieram de Portugal; Frei Pedro Palácios completou a primeira imagem, talhando-a em madeira da própria mata do Outeiro da Penha. Seguia aliás uma norma do tempo na feitura das imagens de roca.

Estava satisfeito o primeiro anacoreta do Brasil, o enviado de Maria, para lançar as bases do maior monumento da História do Espírito Santo. Idoso, pedira a Deus que lhe conservasse a vida, até que pudesse realizar a primeira festa de sua excelsa Rainha.

Sentindo aproximar-se o término de sua jornada terrena, despediu-se dos seus amigos, na última vez que desceu à Vila. "porque não tornaria mais a vê-los".

Assim aconteceu.

Decorrida a solenidade da Páscoa, a 30 de abril de 1570, realizou-se, pela primeira vez, no Espírito Santo e, talvez, no Brasil, numa segunda-feira da Pascoela, a festa de Nossa Senhora da Penha de França. No dia 2 de Maio seguinte, falecia Pedro Palácios, na capelinha de São Francisco. Misteriosamente, dobraram os sinos da ermida, alguém o afirmou e o povo conservou a delicadeza dessa última homenagem, talvez imaginária, que o Céu prestava ao seu troglodita sublime, como o enalteceu a oratória igualmente sublime de Dom Francisco de Aquino Corrêa. (11)

Um preto, seu companheiro, no monte, escravo de Melchior de Azeredo, tendo verificado o ocorrido, logo, desceu a Vila Velha, para comunicar aos moradores o que se passara. Encontraram o religioso ainda de joelhos, encostado ao altar, com as mãos unidas, em posição de prece.

Formou-se uma romaria. A Irmandade de Misericórdia (fundada em 1545), os padres da Companhia de Jesus e o povo da vila subiram, a fim tributar sua homenagem de saudade ao santo eremita cujos despojos foram sepultados, no mesmo dia, no túmulo prèviamente preparado pelo monge.

Acentua o biógrafo que Frei Pedro Palácios finara-se, na montanha da Penha, perto do Céu, do mesmo modo que Moisés, no cimo do Nebo, na Palestina. Vira, igualmente, de longe, a Terra da Promissão! (12)

Em "Novo Orbe Seráfico", conta-nos Jabottão que, para fechar-se o túmulo de Frei Palácios, gastaram-se três dias, no lugar onde, posteriormente, se fez o alpendre, porque "havia uma gruta, à moda de sepultura", que ao fazer-se a ermida, encheu-se de terra, "única terra existente naquele coruchéu da Penha superior". (Prova da gruta, no alto).

Durante algum tempo, a capela foi administrada pelo segundo donatário. Faleceu em 1589.

Desvelaram-se os irmãos da Confraria da Nossa Senhora da Penha pelo culto divino, principalmente Nicolau Afonso, rico proprietário e amigo de Frei Pedro Palácios que, prevendo a morte, lhe recomendara obras necessárias à melhoria do templo.

Auxiliado pelos moradores de Vila Velha e Braz Pinto e Amador Gomes, Nicolau Afonso cumpriu a vontade do finado religioso; melhorou a capela e ornou-a custosamente.

Assim, em 1970 teremos o quarto centenário do Santuário de Nossa Senhora da Penha, iniciado, em 1566.

 

NOTAS

11) — Sermão proferido, em Vitória, nas festas do IV Centenário, 1951.

12) — Biografia de Frei Pedro Palácios. Por XXX

 

Fonte: O Relicário de um povo – O Santuário de Nossa Senhora da Penha, 2ª edição, 1958
Autora: Maria Stella de Novaes
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2016

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