Barra do Jucu – Por Seu Dedê
A historiografia capixaba pouco se refere à Barra do Jucu, embora os viajantes ilustres que por ali passaram não deixassem de fazer seus comentários.
Os relatórios dos presidentes da província e dos governadores do Espírito Santo muito podem contribuir para se saber mais sobre a Barra do Jucu. Podemos pesquisar agricultura, educação e cultura do seu povo.
Em novembro de 1815, Maximiliano Alexandre Philipp (Prinz Von Wied-Neuwied), zoólogo-ornitólogo alemão, em passagem com sua comitiva (Freyreiss e Sellow) pela Barra do Jucu, observou que algumas casas da vila ficavam dispersas e dentre elas, próximo à ponte, se destacava a casa do Coronel Falcão. A ponte estava bastante arruinada, o que dificultou a travessia dos animais para a outra margem. Pelo caminho da praia, tendo a seu lado a mata virgem que se estendia em direção a Pedra d'Água, seguiu até Vila Velha onde deixou as montarias. Com parte da comitiva tomou, na Prainha, uma embarcação com destino a Vitória a fim de se apresentar ao governador. Ele e a comitiva foram bem recebidos e acomodados, pelo governador, em uma casa na Barra do Jucu pertencente ao Coronel Falcão.
Ao retornar a Vila Velha encontrou sua gente acometida de febre (impaludismo) e depois de tratá-los com quina seguiu com todos para a casa da Barra, onde pretendia passar o período das águas. Permaneceu ali até o dia 19 de dezembro quando com parte da comitiva partiu em destino ao sul da Bahia. O restante do pessoal ficou na Barra do Jucu.
Outro viajante, o botânico francês Auguste de Saint-Hilaire, também passou pela Barra, três anos mais tarde, e teve a atenção voltada para as choupanas dos pescadores espalhadas à margem do Rio Jucu. Ao passar pela ponte pagou pedágio.
A estrada ligando o sul da província à capital era bastante frequentada por viajantes e colonos, e sua manutenção era necessária. Para isto, a Câmara Municipal de Vila Velha solicitou ao Presidente da Província urgência na conservação da ponte do Jucu e o melhoramento do caminho da mata que saindo da ponte seguia para Pedra d'Água. Diversos outros presidentes também solicitaram o melhoramento do caminho interno, em detrimento ao da praia por ser aquele mais sombrio e firme, facilitando aos viajantes sua chegada a Vitória.
Seu pleito só foi atendido em 1852 quando o presidente Azambuja liberou a verba de 200$000 (duzentos mil réis) para reabertura do caminho a fim de evitar os alagadiços, estando a obra concluída um ano após.
Na visita de D. Pedro II ao Espírito Santo, em 1860, a ponte da Barra estava arruinada, impossibilitando a passagem de pedestres e a travessia era feita por canoa que, segundo o Presidente da Província, "mal tripulada", devido à falta de rendimento do proprietário. A ponte tinha sido iniciada aproveitando uma ilha arenosa, não foi concluída, e os empedramentos foram destruídos. A construção da nova ponte foi orçada em 16:000$000 (dezesseis contos de réis) e o presidente justificou que a agricultura dos vizinhos da foz do rio e dos que a usariam ao sul era insignificante e que sua opção seria abrir uma estrada mais central que, vindo de Guarapari, atingiria Araçatiba e daí Porto Velho.
Em setembro de 1870, a Câmara de Vila Velha, em seção ordinária, considerou de utilidade pública a reabertura da estrada pela mata da Praia da Costa até a ponte do Jucu. Finalmente, em 1875 foi iniciada e concluída a ponte da Barra do Jucu, aprovada pelo engenheiro César de Rainville e executada por Marciano Antônio Izidro. A ponte custou ao governo a quantia de 7:950$000 (sete contos e novecentos e cinquenta mil réis).
Dez anos após a ponte necessitou de reparos urgentes e foi aberto para a obra o crédito de 500$000 (quinhentos mil réis) sendo nomeada uma comissão composta do Capitão Bernardino Ramalhete de Araújo Malta, José Pinto de Queiroz e Ignácio Pereira Duarte para sua execução.
No ano seguinte (1886), administrada pelo doutor Antônio Athayde, foram feitos os reparos, sendo a obra dividida em três lances unidos por um aterro, tendo o primeiro lance 44 metros, o segundo 11 metros e o terceiro 33 metros.
A obra custou 1:420$000 (um conto e quatrocentos e vinte mil réis), faltando para completá-la a construção de um muro de arrimo a fim de evitar o assoreamento causado pelas enchentes ao aterro.
Anos se passaram até que no governo revolucionário de 1930 a ponte foi adaptada para o tráfego de veículos automotivos. Nesta época era prefeito de Vitória o doutor Laerte Brígido e o custo final da obra foi de 15:496$32 (quinze contos quatrocentos e noventa e seis mil e trinta e dois réis).
A ponte resistiu às diversas enchentes no decorrer dos anos seguintes, até que em 1960 uma tromba d'água se abateu nas cabeceiras do Rio Jucu. A vazão da ponte da BR 101 não suportou a avalanche d'água e cedeu, causando grande inundação em toda a bacia do Jucu, destruindo a ponte da Barra, inundando Vila Velha até às imediações do Grupo Escolar Vasco Coutinho.
A atual ponte da Barra, "Madalena", serviu durante muitos anos como alternativa da ligação Vitória/Vila Velha/BR-101, cuja junção se dava em Amarelos, do município de Guarapari, depois de passar pela Barra do Jucu, Boca da Mata, Jabaeté, Sete, Tanque, Camboapina e finalmente Amarelos.
A construção da Rodovia do Sol deu novo acesso à Barra do Jucu, inaugurando uma nova ponte sobre o rio. A velha ponte foi abandonada e por falta de manutenção veio a ruir. Aproveitando os pilares da antiga o prefeito Vasco Alves construiu uma nova ponte para passagem de pedestres, que recebeu, na sua inauguração o nome de Ponte da Madalena, em homenagem à cultura local.
Na gestão do prefeito Max Freitas Mauro Filho, a ponte foi demolida e no mesmo local foi construída outra em concreto.
Nota: O autor era carinhosamente conhecido por Seu Dedê
Fonte: Memória do Menino... e de sua Vila Velha – Casa da Memória Instituto Histórico e Geográfico de Vila Velha-ES, 2014.
Autor: Edward Athayde D’ Alcântara
Compilação: Walter de Aguiar Filho, junho/2020
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