O Tatu-bola – Por Pedro Maia

Ainda um dia destes a gente contava aqui, neste mesmo espaço, a artimanha usada por um advogado esperto para conseguir a absolvição de seu cliente. Todo mundo sabe que um bom advogado é capaz de modificar conceitos, destruir indícios e tumultuar provas, como bem demonstra a história do nosso judiciário. Um advogado inteligente — como também um promotor idem — pode modificar todo o curso de um processo com alguns minutos de conversa diante dos jurados.
A prova disso aconteceu não faz muito tempo em um julgamento no interior do Espírito Santo, onde o réu era acusado de ter matado um homem pelo simples fato de a vítima tê-lo chamado pelo apelido: "Tatu-bola".
No júri, quando o magistrado deu a palavra à defesa do réu, o advogado em questão levantou-se solenemente e começou o que seria o trabalho em defesa do seu cliente:
— Senhor juiz e senhores jurados... — disse ele em uma voz pausada e tranquila.
— Senhor juiz e senhores jurados... — repetiu em seguida, com um leve pigarro. E continuou:
— Senhor juiz e senhores jurados...
Quando todo mundo aguardava, já com ansiedade, o resto do seu pronunciamento, o esperto advogado de novo pigarreou e tornou a repetir:
— Senhor juiz e senhores jurados...
E nada de sair daquilo:
— Senhor juiz e senhores jurados...
Quando ia repetindo pela vigésima quinta vez aquele já enervante "Senhor juiz e senhores jurados", o magistrado, do alto de sua posição de presidente dos trabalhos, não aguentou e explodiu, batendo com força o martelo sobre a mesa:
— Ora, senhor advogado, vamos logo com isso que aqui ninguém é de ferro para ficar ouvindo este raio de lengalenga que já dura mais de vinte minutos. Afinal, o senhor está deixando todo mundo nervoso!
Foi aí que o advogado também bateu com as mãos sobre a tribuna e, vitorioso, completou:
— Pois com apenas alguns minutos em que aqui eu repeti uma mesma frase já estão todos, inclusive o digníssimo magistrado, nervosos ao ponto de interpelarem o sagrado direito de defesa de um réu. Agora imaginem os senhores jurados — e também o excelentíssimo juiz — passar toda uma vida, de mais de quarenta anos, ouvindo sempre a mesma pichação: "Ô Tatu-bola! Tatu-bola!". Qualquer um acaba matando ou os outros ou a si próprio. E foi assim que aconteceu o crime que agora os senhores tacham de "cruel, absurdo e por motivos fúteis".
Não é preciso complementar que o réu foi absolvido. Por unanimidade.
Capa: Helio Coelho e Ivan Alves
Projeto Gráfico: Ivan Alves
Edição: Bianca Santos Neves
Lúcia Maria Villas Bôas Maia
Revisão: Rossana Frizzera Bastos
Produção: Bianca Santos Neves
Composição, Diagramação, Arte Final, Fotolitos e Impressão: Sagraf Artes Gráficas Ltda
Apoio: Lei Rubem Braga e CVRD
Fonte: Cidade Aberta, Vitória – 1993
Autor: Pedro Maia
Compilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2020
O ano que passou, o ano que está chegando ao seu fim já não desperta mais interesse; ele é água passada e água passada não toca moinho, lá diz o ditado
Ver ArtigoPapai Noel só me trouxe avisos bancários anunciando próximos vencimentos e o meu Dever está maior do que o meu Haver
Ver Artigo4) Areobaldo Lelis Horta. Médico, jornalista e historiador. Escreveu: “Vitória de meu tempo” (Crônicas históricas). 1951
Ver ArtigoEstava programado um jogo de futebol, no campo do Fluminense, entre as seleções dos Cariocas e a dos Capixabas
Ver ArtigoLogo, nele pode existir povo, cidade e tudo o que haja mister para a realização do sonho do artista
Ver Artigo