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Ano Novo - Ano Velho - Por Nelson Abel de Almeida

Torta Capixaba (1962) - Editora Âncora, Rua Nestor Gomes nº 277 - Vitória, ES

Hoje, por todo o dia, todas as pessoas que se encontravam tinham alegria nos olhos, demonstravam paz no coração e todas, invariavelmente, se diziam, umas para as outras:

- Feliz Ano Novo. Boas entradas de ano. Que o Ano Novo, em 1960 lhe dê muitas felicidades, lhe proporcione muitas prosperidades.

Essas frases, e outras iguais, cheias de delicadezas, cheias de otimismo, as pessoas, todos os anos, em cada trinta e um de dezembro se dizem umas às outras.

E, em cada trinta e um de dezembro de cada ano, a humanidade faz um retrospecto dos trezentos e sessenta e quadro dias que ficaram para trás e, melancolicamente, começa a pensar nos trezentos e sessenta e cinco dias que estão para chegar, nos trezentos e sessenta e cinco dias que, como o fio de uma meada, vão ser desenrolados dia a dia, vão ser vividos minuto a minuto.

O ano que passou, o ano que está chegando ao seu fim já não desperta mais interesse; ele é água passada e água passada não toca moinho, lá diz o ditado.

O ano que está a expirar é uma velazinha, da qual só resta um cotozinho que, não demora muito, vai ser substituído por uma vela nova, maior, mais cheia de promessas e de esperanças.

Assim é, também como o ano novo, com o ano que está para chegar. E há milênios que, na sua desesperada esperança, na sua ânsia de felicidade, o homem sempre espera um ano novo com o semblante risonho, sempre vê partir o ano velho com um grande desejo de que ele não volte mais, não regresse nunca mais.

Ano Velho, ano que já deu o que tinha que dar, ano que não tem mais nada para oferecer, nem mesmo um pinguinho de esperança ele tem, que ele já está agonizante.

Ano Novo, sol que vai nascer, que vai surgir no oriente, que ainda está se preparando para aquecer, que ainda está com os alforjes cheios de promessas, cheios de expectativa.

Ano Velho, ano de rosto enrugadinho, de cabelos brancos, como se estivesse cobertos de neve, ano que está necessitando de muletas para poder andar, para prosseguir na sua viagem para a eternidade, que ele está cheio de achaques próprios da velhice.

Ano Novo, ano que ainda destila entusiasmo, que ainda tem uma mocidade que contagia, que é uma promessa e que ninguém sabe se essa promessa será uma realidade.

Ano Velho, carregadinho de desilusões. A algumas ele parte deixando saudades. Para outros...

Daqui a trezentos e sessenta e cinco dias o Ano Novo será o Ano Velho.

E assim é a vida.

Ano Velho. Ano Novo.

Ano Novo. Ano Velho.

 

Fonte: Torta Capixaba, 1962
Autor: Nelson Abel de Almeida
Compilação: Walter de Aguiar Filho, dezembro de 2013

 

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