Dr. Denizarth Santos

Morava em Vila Velha. Era um apaixonado por aquela cidade. Era médico-cirurgião do Exército e foi também, durante muitos anos, diretor do Hospital dos Funcionários Públicos.
Quem o via sempre tão sério, sisudo, emburrado, e, às vezes, até um tanto grosseiro, não podia, nem de longe, imaginar o ser humano maravilhoso que ele era. Por detrás daquela “carapaça de aço”, pulsava um coração generoso.
Rígido, severo, impunha à equipe de médicos, enfermeiros e demais funcionários do hospital um verdadeiro regime militar.
O doente era prioridade e nada que o prejudicasse ou incomodasse podia acontecer, fosse qual fosse a sua posição social.
Certa vez, eu estava na Praça Oito aguardando uma condução, quando tive a minha atenção despertada por uma conversa entre dois menininhos de rua:
- Cara – disse o mais velho -, você tá fervendo! Deve de tá com um febrão...
- É, acho que tô doente mesmo. Tô com uma dor de cabeça danada e o corpo todo doído também.
- Você deve ir ao médico, cara!
- Eu, heim, médico? Eu nem sei onde tem, nem tenho ninguém pra me levar.
- Olha, vem comigo, eu sei a que médico vou te levar! Ao Dr. Denizarth. É só subir aquela escadaria ali e a gente chega lá. Eu conheço ele, é um cara legal! Já tratou de mim. Fiquei internado com comida e tudo e nem paguei nada! Só saí de lá quando fiquei bom.
Ouvi encantada essa conversa e fiquei distraída olhando os dois menininhos se encaminharem para a escadaria Maria Ortiz, o que estava bom amparando o doentinho.
Coisa do Dr. Denizarth, que tinha uma infinidade de “clientes de cortesia”. Às vezes, até mesmo operação ele realizava e nada cobrava.
Dizem que ele era espiritualista, mas a caridade não é privilégio de nenhuma religião, e sim do coração onde ela se abriga.
Mas... um dia, esse batalhador incansável tombou ferido por aquela que ele tanto combatera: a morte!
Na catedral apinhada de amigos, colegas e admiradores, o silêncio respeitoso só era quebrado pela voz comovida do padre oficiando o serviço religioso.
Na cerimônia de corpo presente, as enfermeiras fizeram o juramento de manterem a disciplina e eficiência que ele sempre exigira delas. Após o juramento, uma a uma, em fila, aproximaram-se do esquife e colocaram um botão de rosa vermelha.
Quando do término da Terceira Ponte, procuravam um nome para batizá-la. Como eu torci para que alguém lembrasse daquele que tantas vezes uniu Vitória a Vila Velha no incansável exercício de sua profissão.
Mas, infelizmente, essa ponte não levou o seu nome; eu, porém, tenho a plena certeza de que uma força espiritual de energias positivas nos liga a ele, e por essa “ponte de luz” nos vem os fluidos benéficos de sua inteligência e generosidade.
Na certeza de que o bem é imortal, eu sei que ele vive!
Fonte: ESCRITOS DE VITÓRIA - Volume 15, Personalidades de Vitória — Uma publicação da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Vitória-ES, 1996.
Prefeito Municipal - Paulo Hartung
Secretário Municipal de Cultura e Turismo - Jorge Alencar
Sub-secretário Municipal de Cultura e Turismo - Sidnei Louback Rohr
Diretor do Departamento de Cultura - Rogério Borges de Oliveira
Diretora do Departamento de Turismo - Rosemay Bebber Grigatto
Coordenadora do Projeto - Silvia Helena Selvátici
Chefe da Biblioteca Adelpho Poli Monjardim - Lígia Maria Mello Nagato
Bibliotecárias - Elizete Terezinha Caser Rocha e Lourdes Badke Ferreira
Conselho Editorial - Álvaro José Silva, José Valporto Tatagiba, Maria Helena Hees Alves, Renato Pacheco
Revisão - Reinaldo Santos Neves e Miguel Marvilla
Capa - Vitória Propaganda
Editoração Eletrônica - Edson Maltez Heringer
Impressão - Gráfica e Encadernadora Sodré
Autora do texto: Beatriz Monjardim F. Santos Rabelo
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2018
Escolho, para falar aos Escritos de Vitória, uma personalidade essencial. Muitos a conheceram e poucos, como eu pois falo de um mineiro, nascido em Itaúna, a 9 de fevereiro de 1909...
Ver ArtigoAnna de Castro Mattos, pseudônimo — Annette, mulher de fibra, garra e prestígio. Capixaba de nascimento de Mimoso do Sul e vitoriense por título concedido pela Câmara Municipal de Vitória, em 1967
Ver ArtigoSe é que é possível desvincular biografia e obra de um artista, eu diria que mais conheci o homem do que o notável ficcionista de O Sol no Céu na Boca
Ver ArtigoO prazer de Maria Ortiz era rolar pela ladeira do Pelourinho dentro de uma ancoreta vazia. Tinha nove anos nessa época. Seu pai, o espanhol Juan Orty y Ortiz, veio para o Espírito Santo em 1621
Ver ArtigoE olha que o Elmo foi figura sempre presente e atuante no movimento cultural de Vitória. Membro da AEL e do IHGES, escreveu alguns livros
Ver Artigo