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De bonde com Grijó - FIM

Capa do Livro: A Ilha de Vitória que Conheci e com que Convivi, vol. 6 – Coleção José Costa PMV, 2001 Autor: Délio Grijó de Azevedo

Saindo da década de 1950 para a atual, quero fazer uma alusão a um dos melhores logradouros de Vitória, que é a famosa Curva da Jurema. Se, nome até hoje causa polêmica, pois cada um diz uma coisa. Porém a mais divulgada pelos habitués mais velhos é de que surgiu devido ao nome uma antiga "barraquinha" e que liderava o movimento da praia. Um detalhe, a praia surgiu dos aterros ali processados. Mais tarde o povo começou habitá-la, mas com tudo desordenado. Na administração do prefeito Paulo Hartung este resolveu modernizar o local e deu toda infra-estrutura para ser um logradouro de uso popular. Conta hoje com cerca de 18 quiosques dotados de banheiros, cozinhas, uma área para arrumação de mesas e cadeiras externas. Existem duas preferências de público: os que querem "agito" e os mais calmos. As barracas (como são chamadas) mais calmas são do Barão, de Helena ou Alemão, de Betinho Marins. Já na do J&B, na do Nardi e outras o pagode, a lambada e o samba imperam. No final, tudo é alegria na Curva da Jurema.

Ainda bem que existe espaço para escrever algo sobre dois amigos, sendo que um nos deixa até os dias de hoje, que era o Washington Muqui Banhos, um trabalhador e que gostava de promover festas através de sua Coluna Social nos diversos jornais da Terra e tabloides que ele fundava. Deus o levou cedo, mas a sua memória é sempre lembrada por nós. O outro está vivo, levando aquela vida mansa lá pelas bandas de Itapoã. Também militou na imprensa da cidade, assinando colunas sociais com o nome de "Conde Bulau". Espirituoso, noctívago, apreciador de um bom aperitivo, tornando-se um elemento do nosso folclore. Uma de suas identificações foi através de um "slogan" por ele criado e que ultrapassou fronteiras por onde ele passou. Ele escrevia nos mictórios que usava: "BULAU MIJOU AQUI"... Certo dia, estando eu no Pão de Açúcar fui usar um de seus mictórios, quando deparei com a frase na parede: "O Bulau é um grande praça". Como era bom viver em Vitória nos tempos das brilhantinas Gloctora, Eucalol, Royal Briar Gessy e Lever. Dos perfumes, Sinfony, Le Geverian, Colônia Regina, Coty e Lancaster (geralmente falsificado), Royal Briar. Era bom apreciar o desfile de uma doméstica usando o seu óleo Vertéa no cabelo.

Ainda em tempo, desejo destacar pessoas que, como disse anteriormente, dadas as falhas de minha memória, não foram citadas e que agora corrijo. Assim é que lembro os meus amigos Jair e Zito "Filhote de Coruja", irmãos e pertencentes à família Gonçalves; o Jaú, que era funcionário da Sapataria Principal, e o Odir, o Zito, desenhista da Vale do Rio Doce e casado com Dona Ináh Marins, pais de Teresinha, antigos moradores da Praia do Suá. Na Principal trabalhava também o Sr. Bianor, que prestou seus serviços por mais de 30 anos. Um dia o Sr. Bianor comentou com o Jaú que havia visto um disco voador. Isto estava correndo a década de 50. Jaú, que era um grande gozador, passou a espalhar para os amigos o que o Sr. Bianor lhe havia confidenciado. A gozação em cima do Sr. Bianor foi uma coisa de louco. Bastava só falar em disco voador onde ele estivesse, para que a coisa ficasse "preta". Outras pessoas que tiveram participação ativa em nossa sociedade eram os garçons dos nossos bares e clubes: Castrinho no Iate Clube e antes "Castro Alves" no Café Bar Avenida (o apelido foi motivado por sua cabeleira, que o assemelhava ao grande poeta); Baianinho, que era crente e gostava de nos dar conselhos; Paraguaio, que gostava de errar nas contas, mas sempre para o meu favor; Pery, o Amigo da Onça, assim chamado devido à semelhança fisionômica com o personagem do chargista de O Cruzeiro, Péricles; Pery, que chegou a presidente do Sindicato dos Garçons; Nelson Marins, o veterano dos garçons e um grande praça, amigo de todos os jovens que frequentavam o Café Avenida; Barracho, o mais gozado da turma. Certa ocasião, em um final de festa no Praia Tênis, o Barracho devia estar com "algumas" na cuca e nossa turma que estava na festa (Adir Bachour, Serginho Sarkis, Marcelo Monjardim, eu e meu irmão Zé Cláudio) convencemo-lo a fazer umas reclamações do Dr. Ignácio Pessoa, que era presidente do clube. Não deu outra, o Barracho pediu licença, sentou-se e começou a falar e até dar tapas na mesa. Mais tarde foi retirado pelo Zé Luís Rebello e ficou suspenso por vários dias do trabalho. No entanto, esclarecemos ao Ignácio que tudo aquilo havia sido provocado por nós e acabou o Ignácio perdoando-o e ele voltou ao trabalho. O Barracho era um barato. Outra figura que não poderia ficar de fora do livro é o Dr. José Marques, o eterno secretário da Faculdade de Direito e que quebrava o galho de todos os que cursavam a faculdade. O meu amigo José Maria Rocio, que por ser gago sofria em nossas mãos, principalmente com seu primo José Carlos Monjardim Cavalcanti, o Cacau. Dava pena ver o Zé Maria querer falar certas palavras e a turma sabendo qual era e falava outra. Certa vez ele queria pronunciar a palavra juiz e ficou no juju. Eu, que estava presente, falei "Juvenal". Aí não saiu nada. Momentos depois, na avenida, ele, mais calmo, falou: "Quando eu preciso da ajuda de vocês, aí é que vocês mais me atrapalham, eu queria falar 'juiz'..." Outro de que ia me esquecendo é o Dalton Carvalho, o Dalton Cheiroso. Isto devido ao fato de andar sempre superperfumado. Ele foi um antigo funcionário do Banco do Brasil. Uma pessoa que foi polêmica em Vitória e por que não dizer no Brasil, era o russo Bóris Davidovisc, proprietário da Mibra Ilmentina do Brasil, firma de extração de areias monazíticas de Guarapari e cujo escritório ficava em cima do antigo Banco de Londres, onde está hoje o Banco Real, que também foi antes Banco da Lavoura de Minas Gerais S/A. O Sr. Bóris foi por muito tempo um prato cheio para o Dr. Moreira Camargo e os comunistas Jayme, Benjamim Campos e o folclorista, poeta e escritor Hermógenes da Fonseca, que o atacavam impiedosamente em comícios e através da Folha Capixaba, podendo incluir neste bloco o jornalista Darly Santos, que também era admirador do PC. Aliás, os protestos eram justos, pois, alegando levar areia no fundo dos navios para fazer lastro, eles levavam o nosso precioso mineral para diversos processamentos da Rússia a preço de banana, Mas, para melhorar o astral, vou citar o nome de um dos maiores brotos da época de 1960/70: Iracema Helena Vervloet, criatura linda, alegre e de um corpo escultural, e se continuar falando estraga. Outro grande amigo das noitadas, João Bonino e o nosso estimado João Semprini, o "João Ratão", tudo de primeira linha.

Ainda por volta de 1970, Vitória foi propagada internacionalmente, através do feito esportivo. Seu protagonista foi o atleta Jorge Reis, goleiro do Rio Branco, que bateu o recorde mundial de permanência sem levar gols: 1.604 minutos incólume. Hoje o Jorge é homem de rádio e publicitário. Como comecei pelos antigos lugares da Praia do Canto, cito seus moradores Daniel, seu Motta, seu Vasco e o velho João da Cruz, um símbolo da Praia do Canto e fundador do Recreio F.C. Deste clube ainda existe tanto a sede social como sua modesta praça de esportes. O pescador Paulo, irmão de Elias Muller, e Caboclo, que vendia cocos e frutas para a família Castelo. Anteriormente citei os nomes de dois grandes comunicadores de nossa cidade e que muito fazem pelo nosso estado e particularmente nossa ilha, por divulgar suas coisas, fazendo com que outros povos nos conheçam, principalmente na área de turismo. São eles: Hélio de Oliveira Dórea e o radialista Jairo Maia, ambos com mais de 30 anos de profissão. Também uma dupla que nos fornece as boas e más notícias pela TV e que pertencem à atualidade, exercendo sua atividade por mais de duas décadas, os cito com muito orgulho: Marisa Sampaio e o seu patner Ábido Chequer, que fazem o "Bom Dia Espírito Santo" pela TV Gazeta. E, falando em Gazeta, não poderia omitir o nome de Maria Alice Paolielo Lindenberg, diretora e assessora da Rede Gazeta de Comunicações. Também dois velhos jornalistas com "muitos anos de estrada" são os irmãos Paulo e Pedro Maia, que entendem tudo de jornal. Porém nos dias de hoje surge um novo "astro" na comunicação através da televisão. Trata-se do jovem Wesley Satler, que, através de sua equipe de reportagens, cobre os principais eventos de nossa sociedade e eleva a nossa cidade, trazendo personalidades políticas, socialite, industriais de renome internacional, mostrando as nossas belezas naturais, atraindo novos investidores em coisas do estado. Também nos proporciona ótimas reportagens em diversas partes do mundo, mostrando para nós a cultura internacional. Portanto, vou elegê-lo representante da juventude contemporânea. E assim vou encerrando o meu livro "A ILHA DE VITÓRIA DO ARQUIPÉLAGO OUE CONHECI E CONVIVI.

Estou chegando ao final da tarefa que me prometi cumprir, ou seja, falar sobre este maravilhoso arquipélago que para mim continua sendo motivo de orgulho. Atualmente sou morador de outra cidade, que é a matriarca do povo espírito-santense, a nossa querida Vila Velha. No entanto, jamais abdiquei da minha cidadania de capixaba, mantendo em nossa capital o meu título de eleitor e até conta bancária; e também todos os cinco filhos nasceram ali.

Como é gostoso ver uma cidade limpa, com aspecto de metrópole, ajardinamentos modernos, ruas bem conservadas, sem buracos, calçadas padronizadas, reflorestamentos com árvores nativas do Brasil, ambulatórios funcionando perfeitamente no atendimento ao idoso, jovem e crianças, Secretarias modernas da Cultura, Esportes, Fazenda, Ação Social, Educação e Transportes, tudo sob o comando de um jovem chamado Luís Paulo Velloso Lucas. Além desses predicados, Vitória é a única cidade do estado que faz um atendimento quase perfeito a suas populações fixa e periférica.

Se não tomar cuidado poderei cometer ingratidão ao deixar de citar nomes e fatos, o que por certo estará ocorrendo, e aproveito para pedir desculpas. Mas, por outro lado, foi graças a vocês que resolvi escrever "A Ilha de Vitória do Arquipélago que conheci e convivi".

Outrossim devo dizer que todos esses fatos e histórias narrados foram extraídos de minha memória, exclusivamente. Como as máquina e computadores, também sou passível de falhas, pois sou humano.

Muito Obrigado.

 

DÉLIO DE AZEVEDO

 

Fonte: A Ilha de Vitória que Conheci e com que Convivi, vol. 6 – Coleção José Costa PMV, 2001
Autor: Délio Grijó de Azevedo             
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2019

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