Entrevista com Elisa Lucinda
A poetisa Elisa Lucinda passou um final de semana “chique” no Estado, provando sua tese de que Capixabaéchique, nome do seu show que fez sucesso em várias cidades brasileiras, e que deve voltar, em breve, para temporada em Vitória.
Ela apresentou, com liberdade, sem “script”, vários poemas no Varal de Poesias, sábado à tarde, em Manguinhos. Já à noite, encantou a plateia que participava do 4º Encontro do Vinho do Espírito Santo com o espetáculo “Euteamo Semelhante”, em Pedra Azul, Domingos Martins.
E ontem, fugindo também ao “script”, se emocionou ao assistir ao ensaio da peça Te Pego às 9 – A tragicomédia da Espera, seu primeiro texto dramatúrgico, que estreia dia 22, no Teatro Carlos Gomes, com direção e produção de José Luiz Gobbi. “A peça é a meninas dos olhos dentre os meus cinco tentáculos (projetos)”, declarou a poeta, em entrevista ao Caderno Dois.
A Gazeta – Depois de ganhar fama com a poesia, você estreia na dramaturgia. Como aconteceu isso?
Elisa Lucinda – Não deixei a poesia, essa peça está escrita desde 1992. Na verdade, meu trabalho tem uma força teatral, inclusive o poético. E o meu trabalho dramatúrgico tem uma força poética muito grande. Então, para mim, é uma estreia muito importante, porque o texto estava na gaveta. Zezé Polessa já quis fazer com Paulo José. Mas sabe quando as coisas só acontecem no tempo certo? E esse tempo é agora.
Como você vê o interesse de vários artistas em interpretar o seu texto, como Mariana Ximenes e Zezé Polessa?
Eu fico muito orgulhosa, porque é um texto muito sincero, que tem um pouco de tudo que aprendi com minhas amigas... O que eu aprendi da alma feminina misturei numa mulher só, que ficou louca. Ampliei as loucuras femininas, aquelas viagens da gente, sabe...
E aconteceu algo parecido com você? Já ficou esperando algum ‘príncipe encantado’...
Claro, muitas vezes. O texto é inspirado nas várias noites em que apostei tudo num homem que pensei ser o homem da minha vida, aquele que a gente veste uma roupa de príncipe, antes dele aparecer. E depois a gente vê que a gola não é do manequim do cara... essas coisas... Mas a gente fica esperando o príncipe... Só que nessa história, o príncipe vem... ela pira... Essa história faz parte de um desejo: eu quero ser a rainha do simples... Porque o simples é o mais difícil de atingir.
Você voltou à cidade para fazer o varal, o Encontro do Vinho e, no mesmo final de semana, a cantora Ana Carolina recitou um poema seu no show...
Eu acho muito bacana quando o disco vira, ou melhor, quando o vento sopra par ao lado da minha terra. Porque eu sou uma capixabista, uma capixaba militante, e toda vez que acontece alguma coisa forte que põe o Espírito Santo no cenário nacional eu fico orgulhosíssima.
O que vai de encontro com sua tese e seu espetáculo ‘Capixabaéchique’.
Que inclusive pretendo fazer grande temporada em Vitória, para difundir esse conceito que capixaba é chique, mas só falta estima. É um povo que não sabe o quanto é bela sua terra. Então, eu gosto quando acontecem essas coincidências.
Fale um pouco sobre o texto que Ana Carolina recitou.
É uma prosa poética que vai estar no meu livro Contos de Vista, primeiro livro de prosa, que será lançado no final do ano. No livro, eu inclusive conto a história dela, a Ana Carolina, me pedindo um poema para seu show.
E assim as mulheres vão assumindo seu lugar em todas as artes...
É verdade. E as mulheres do Espírito Santo têm uma herança artística diversificada, tem mulher italiana, negra, pomerana, holandesa, indígena... Todas são representadas aqui. E tem um passado de mulher como Maria Ortiz, de luta. Tem a arte de uma paneleira... Eu gostei muito da dobradinha eu e Ana Carolina, no final de semana. Nos admiramos...
Em quais projetos está trabalhando, além da peça? Está viajando com o show ‘Euteamo semelhante’?
Estou ainda. Mas estou voltada para cinco tentáculos importantíssimos. Um deles é o lançamento, para setembro, do CD do Euteamo e Suas Estréias com convidados especiais, como Zeca Baleiro, Marília Pera, Marília Gabriela, Irene Ravache, meu homem José Inácio Xavier, que é um psiquiatra que fala um poeminha lindo. O segundo é a peça, minha menina dos olhos, que tenho certeza, vai explodir. E vai viajar para o Rio, São Paulo, Salvador e Porto Alegre, depois de uma megaestréia em Vitória com a Alcione Dias no papel principal. Para mim, é a maior atriz do Espírito Santo. O texto é um luxo na mão dela... Lea vai mostrar isso para todas essas cidades.
E os outros três projetos?
Tem um chamado a Poesia voltas às Aulas, um projeto educacional que consiste em ensinar professores a recitar poesia sem ser chato... O quarto é o meu livro Contos de Vista e, o quinto, que não é o menor, é a Coleção Amigo Oculto, de livros de adivinhação destinados a crianças, que surgiu depois de ter ganhado prêmio de Altamente recomendável pela A Menina Transparente, da Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil.
Sua poesia também é politizada. Você tem acompanhado as políticas nacional e estadual? O que está achando?
Olha, eu fico com muita vergonha com tudo que está acontecendo com o Estado, com essa “lama” no Governo. Foi uma porrada na cara do Espírito Santo, porque tem um tipo de político que já era, que está acabando no Brasil, como ACM, Maluf... É uma geração, um conceito que se esgotou, não está colando mais. Então dói, dá um pouco de vergonha, mas ao mesmo tempo é o momento da limpeza, sabe aquela faxina igual a que a gente faz em casa? Por incrível que pareça está funcionando melhor, é uma nova ética surgindo...
E sobre o show no Encontro do Vinho?
Eu adorei... Porque tudo combinou demais: vinho, poesia, brinde... aquele cenário maravilhoso, que é a Pedra Azul. E tudo isso, depois de eu ter saído de Manguinhos, da praia, outro lugar lindo do Espírito Santo. Não é chique? Eu trouxe, na mesma mala, luva e biquíni. Em qual lugar do mundo que você pode fazer isso?
Fonte: Caderno Dois-Jornal A GAZETA de 07/08/2001
Por: Renata Rasseli
Foto: Chico Guedes
Acervo: Casa da Memória de Vila Velha, ES
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2012
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