O Diário Revisado – Cláudio Bueno da Rocha
Eu me lembro dO DIÁRIO como o jornal de Edgard dos Anjos. Ele me levou para lá em dezembro de 1969. Comecei num sábado. Alguém da redação se casava e todo mundo já estava na base da festa às 3 da tarde. Às seis não havia mais ninguém. Fechei o jornal sozinho, com Paulo Zimmer, nem sei como.
A equipe era muito jovem, mas com uma imensa garra. Rogério Medeiros, Paulo Torre, Maura Fraga e Jorge Luís (hoje em Exame), eram os que estavam mais próximos de mim. Em 1971 tive um namoro com A Gazeta que durou quatro meses. Fui parar no hospital e voltei para O DIÁRIO, onde fiquei até 1972.
Quando Edgard vendeu o jornal para Otacílio Coser, um dia Rogério e eu lhe demos a idéia de fazer uma revista. Ele topou e nos chamou. Foi assim que nasceu Agora. Eu dirigia a revista, Rogério dirigia a reportagem e Atílio diagramava. Parece que saiu boa porque Mino Carta e Carlinhos de Oliveira mandaram cartas elogiando.
A revista, porém, não teve uma progressão como esperávamos. Em 1973 eu saí. E, a pedido do governador Arthur Carlos, voltei a dirigir O DIÁRIO. Tínhamos idéias novas. Fizemos um vespertino, passamos para off-set. Mas fazer off-set sem ter oficina própria é duro e, apesar da luta do Armando no fotolito, o jornal dificilmente saía na hora necessária. Paulo Maia era meu braço direito. Paulo Zimmer secretariava e Marcelo Rossoni chefiava a reportagem. Quem mandava era Américo Buaiz. Faltava-lhe a paixão de Edgard dos Anjos. Pensava em cifras, em pagamentos, o jornal era um adendo em seus negócios não uma razão de vida, como era para Edgard. Um dia fiz uma coluna com anúncios classificados de Precisa-se, em que enquadrava os principais jornalistas que estavam trabalhando lá, na época. Todo mundo riu, Américo não. Mandou me demitir.
Estive lá ainda três vezes. Na última passei no caixa e peguei meu dinheiro.
O jornal foi vendido. Felizmente jornalistas o compraram, senão provavelmente tinha fechado.
Moro lá perto. Gosto de passar por lá às vezes, especialmente aos domingos.
Não há ninguém. Mas sons e sonhos antigos repercutem na memória. Revejo Barreto e Makoto fazendo a reportagem que levou todo mundo preso ao 3°BC, quando publicamos que havia uma quadrilha roubando crianças na Grande Vitória. A notícia tinha fundamento, havia inúmeros registros de queixas nas delegacias, de pais aflitos. Makoto anotara todos. Um dia Edgard alugou um avião e houve uma batida da Polícia Militar em Carapina numa casa suspeita. Mas não havia bandidos, havia apenas a vontade enorme de fazer um vibrante jornal, que não acompanhava o silêncio de uns nem a submissão de outros.
Lembro também do dia em que O DIÁRIO saiu em off-set pela primeira vez. A manchete foi Luiz Capeta crivado de balas pela Polícia numa caçada cinematográfica que toda a população acompanhava. Eu e Pedro Maia o conhecíamos bem. Fizéramos com ele uma reportagem quatro anos antes, quando ainda era um menino. O título era "Por que Luizinho rouba". Quando olhei seu corpo morto no jornal, compreendi todas as oportunidades que ele havia perdido e como se aproximara de seu trágico destino.
O DIÁRIO me ligou muito a Rogério Medeiros, que andava perdido pelo interior, desconhecendo o seu potencial de melhor repórter e melhor fotógrafo do Estado. Talvez eu tenha contribuído para que ele descobrisse isso. Se o fiz, minha passagem pelo O DIÁRIO não foi em vão.
Fonte: O Diário da Rua Sete – 40 versões de uma paixão, 1ª edição, Vitória – 1998.
Projeto, coordenação e edição: Antonio de Padua Gurgel
Autor: Cláudio Bueno Rocha
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2018
Plinio Marchini. Escritor e publicista. Dirigiu vários jornais no Estado, estando atualmente à frente do matutino “O Diário”
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