O Farol de Regência - Por Geraldo Magela
A necessidade de um farol na foz do rio Doce já havia sido apontada anos antes pelo capitão-tenente Cerqueira Lima, da Repartição de Faróis da Marinha, porém, as mudanças políticas havidas inviabilizaram o projeto.
No ano de 1887, a repercussão do naufrágio do ‘Imperial Marinheiro’ e as mortes ocasionadas chamou a tenção novamente para falta que fazia o farol para naquele momento evitar o luto de tantas famílias:
“Agora, como o sacrifício do Estado foi grande, e há uma dezena de famílias brasileiras cobertas de luto, é possível que a ponta do rio Doce tenha um farol de quarta ordem, que custará menos de uma centena de contos” [340].
A imprensa capixaba continuou denunciando a necessidade do farol, mas somente 8 anos depois do naufrágio do ‘Imperial Marinheiro’ a instalação de um farol na barra do rio Doce veio a se tornar realidade, quando foi concedido crédito pelo Ministério da Marinha para as despesas com a construção e pagamento do mecânico Victor Alinguant, incumbido da sua construção [341].
O farol foi inaugurado no dia 15 de novembro de 1895, no governo Muniz Freire, que defendeu na Câmara do Deputados a necessidade de sua instalação. O “O Estado do Espírito Santo” publicou o aviso do Ministério da Marinha:
“Aviso aos navegantes. Estado do Espírito Santo. Farol do rio Doce. Avisa-se que, no dia 15 de novembro foi inaugurado o farol do rio Doce, no Estado do Espírito Santo.
Este farol acha-se colocado na margem esquerda da foz do rio Doce. O seu aparelho de luz é dióptrico de 3ª ordem, grande modelo, girante, e exibirá lampejos brancos e vermelhos alternativamente, com intervalos de 30 segundos.
O plano focal eleva-se a 33,5 metros acima do solo e a luz será visível a 20 milhas, com tempo claro” [342].
Tempos depois, num certo dia de julho de 1898, quando era capitão do porto de Vitória, o capitão-tenente Ximenes Cabral esteve em Regência a fim de inspecionar o serviço da praticagem da barra e o farol [343]. Viajou no vapor ‘Vencedor’, sob o comando do marujo Joaquim Teodorico Júlio César Santos, irmão do major Basílio Emílio. Chegaram em Regência pelas 14h30, enfrentando a temível barra do rio Doce, “tão temida pelos navegantes e que no entretanto recebeu-nos garbosamente, em suas águas serenas e tranquilas” [344].
Pouco depois fundearam “no ancoradouro, obedecendo aos sinais do velho prático Manduca” [345]. Encontraram ali o “digno cavalheiro Sr. major Dioclécio Costa, influência política da localidade” [346]. Puderam constatar ali que, além das “riquezas naturais, como o café e o jacarandá que exporta em abundância”, havia nos últimos anos recebido alguns melhoramentos “como o telégrafo e o farol, criados na administração do benemérito Dr. Muniz Freire” [347].
Sobre o farol escreveu: “cuidadosamente conservado, nota-se ali o asseio e a boa ordem, sendo digno de louvor o primeiro faroleiro Dioclécio Carlos d’Azevedo e seus dignos auxiliares” [348].
Mas o farol não fora instalado no local mais estratégico e por esta razão foi removido para a ponta sul da foz do rio Doce pelo capitão-tenente Pedro do Monte Serrat [349].
Em 1998 foi substituído o antigo farol de estrutura de ferro pelo novo, de concreto, existente hoje em Regência [350]. A cúpula do antigo farol foi tombada pelo Patrimônio Histórico do Estado do Espírito Santo em 1998 e restaurada em 2014. Hoje encontra-se instalada numa praça de Regência, em frente à antiga residência do faroleiro, onde funciona o Museu Histórico de Regência.
Notas:
[340] A Província do Espírito Santo, Vitória, 15 de setembro de 1887; nº 1461; p.2. “Farol no Rio Doce”
[341] Comércio do Espírito Santo, Vitória (ES), 25 jul. 1895; n.204.p.1.
[342] Estado do Espírito Santo (ES), 20 dez. 1895; n.4089.p.2.
[343] Estado do Espírito Santo 7 de julho de 1898 nº 0156 página 2. “Rio Doce. Impressões de uma viagem”. O relatório publicado na imprensa traz a data de 16 de julho de 1898.
[344] Estado do Espírito Santo 7 de julho de 1898 nº 0156 página 2. “Rio Doce. Impressões de uma viagem”. Antes de se transferir para Vitória, Joaquim Teodorico Júlio Cesar Santos havia sido patrão-mor da barra do rio Doce e ali trabalhado muitos anos com Manduca, pai de Bernardo.
[345] Trata-se de Manoel dos Santos, o Manduca, pai de Bernardo. Havia trinta anos que era o prático da barra do Rio Doce.
[346] Estado do Espírito Santo 7 de julho de 1898 nº 0156 página 2. “Rio Doce. Impressões de uma viagem”.
[347] Estado do Espírito Santo 7 de julho de 1898 nº 0156 página 2. “Rio Doce. Impressões de uma viagem”.
[348] Estado do Espírito Santo 7 de julho de 1898 nº 0156 página 2. “Rio Doce. Impressões de uma viagem”.
[349] Jornal Official. Vitória (ES), 26 de abr.1907; n. 90; p.1. “Rio Doce. Impressões de uma viagem”.
Fonte: Crônica do Naufrágio em Regência Augusta, 2022
Em que se aborda o trágico sinistro do cruzador “Imperial Marinheiro” da Marinha de Guerra Brasileira na foz do majestoso Rio Doce no dia da Independência no ano de 1887 sob a ótica do envolvimento de Cabloco Bernardo, Major Basílio e Padre-Mestre Antunes, três altruístas personagens da história capixaba, ligados ao município de Aracruz, do Estado do Espírito Santo.
Autor: Geraldo Magela da Silva Araujo
Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo - IHGES; membro da Sociedade Brasileira de Estudos do Oitocentos - SEO e ocupante da cadeira nº 16 da Academia Aracruzense de Letras - ACAL
Compilação: Walter de Aguiar Filho, junho/2023
Foto Capa: Cruzador Imperial Marinheiro fundeado na Baía de Guanabara por Marc Ferrez
Diagramação capa miolo e revisão:
Farrel Kautely
Ilustrações:
Ivan Filho, Rafael Vasquez
Editor Responsável:
Geraldo Magela da Silva Araujo
Foto do autor:
Acervo pessoal
Mapa:
IBGE, cartas e mapas
A 07 de setembro de 1871, a luz do farol já anunciava aos nautas, antes incertos, a segurança da aproximação do porto
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