O Saque Holandês – Por Norbertino Bahiense

João Maurício de Nassau, alemão a soldo dos holandeses de uma Companhia, a Companhia das índias Ocidentais, e que veio às costas do Brasil consolidar o assalto holandês à nossa terra; quando de sua estada em nossas plagas para usufruir as vantagens decorrentes da vitoriosa colonização portuguesa; quando aqui veio para pilhar o nosso ouro, a nossa prata e demais riquezas entre as quais já se destacava o nosso cobiçado açúcar industrializado em alta escala pelos milhares de engenhos em pleno funcionamento; quando dirigia os seus homens contra a nacionalidade nascente dos brasileiros, já pujante e representada pela estirpe de um Vidal de Negreiros, de um Felipe Camarão, de um Henrique Dias e outros, — não estava mais no Brasil quando as terras capixabas foram, pela terceira vez, visitadas pelos homens que aqui deixou. Desta vez — sem a sua responsabilidade, a visita tinha por único fim o sacrilégio de um saque ao Convento da Penha. O saque de jóias, o saque de uma imagem, o saque até de escravos ali existentes.
E assim foi que, em certa madrugada do ano de 1653, um dos frades do Convento, Frei Francisco da Madre de Deus, — segundo afirma Jaboatão, — orava contrito no altar de Nossa Senhora, quando pelas portas abertas do santuário surgiram os saqueadores holandeses que mais uma vez transpunham a barra de Vitória.
Sob o olhar atônito do frade, tudo roubaram, sem o molestar. Estarrecido, Frei Francisco da Madre de Deus assistia ao sacrilégio. Ao tocarem, porém, no manto da imagem, o frade não se conteve e protestou veementemente, indo ele mesmo tirar o manto e a coroa, entregando-os aos miseráveis.
Conta ainda Frei Basílio, citando Jaboatão, que "um dos holandeses tentou tirar o anel precioso do dedo de Nossa Senhora, mas não o conseguiu, como, igualmente, não pôde cortar o dedo e a própria mão.
Gomes Neto e ainda Frei Basílio dizem que os holandeses, após o saque, levaram o Menino Jesus, "arrecadando-o dos braços da imagem, alegando que o levariam para o Recife para brincar com outro menino que lá havia." Machado de Oliveira, na Revista do Instituto Histórico Brasileiro de 1856, não subscreve o sacrilégio do Menino Jesus, achando a noticia incerta.
Após a pilhagem, tudo levaram, inclusive 08 escravos, e avançaram para Cabo Frio, em busca de gado, mas ali foram surrados pelos índios, que mataram alguns pilhantes, obrigando-os a fugir a toda pressa para o Recife.
O saque da Penha marcou as vésperas do término do domínio holandês no Brasil, a 27 de janeiro de 1654.
Quando Recife foi libertada do jugo holandês, esteve presente o Custódio Frei Daniel de São Francisco a quem foram restituídos os escravos, ornamentos e alfaias que, no mesmo ano, retornaram à Penha.
Fonte: O Convento da Penha, um templo histórico, tradicional e famoso 1534 a 1951
Autor: Norbertino Bahiense
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2018
Saltando, do reinol, encontra a porta aberta... E o frei vagando, só, na praia — já deserta — Distante vê, na gruta, o abrigo que buscava
Ver ArtigoCrescia a concorrência do povo às horas da prece, na capelinha de São Francisco, o templo cujas ruínas ainda podemos apreciar, na orla do Campinho
Ver ArtigoTambém ouvida, por Gomes Neto, ao Padre Joaquim de Santa Maria Madalena Duarte
Ver ArtigoDo livro O RELICÁRIO DE UM POVO – Santuário de Nossa Senhora da Penha (1958, 2ª Edição), da autora Maria Stella de Novaes
Ver ArtigoDesde 1570 comemoramos a Festa da Penha oito dias após a Páscoa. Ela é a festa cristã pioneira da América
Ver Artigo