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Viajantes Estrangeiros ao ES – Outros insignes estrangeiros

Capa do Livro: Viajantes estrangeiros no ES - Autor Levy Rocha

Sabe-se que a capital da província espírito-santense não estava incluída na escala dos navios que se dirigiam para as Índias Orientais, conforme ocorria com a Bahia e o Rio de Janeiro, tão bem aquinhoados em descrições e referências nos livros de viagens transoceânicas de célebres expedições científicas. Não obstante, seria grande a relação dos estrangeiros ilustres que se detiveram no porto de Vitória somente o tempo necessário para o abastecimento do vapor de água potável e víveres ou para o seu desembaraço alfandegário. Lembraríamos Maria Graham que, em 1821, enquanto a fragata DORIS, na qual viajava, lançava ferros na baía, ela recolhia a informação para o seu DIÁRIO DE UMA VIAGEM AO BRASIL: "Na Província fabricavam-se velas de pano, mas o principal comércio do lugar era o de escravos". E mais essas revelações relativas aos tumbeiros, naquele ano: "Não menos de setenta e seis navios de escravos partiram sem contar os contrabandistas neste gênero".

Um outro insigne estrangeiro, o artista e pintor Charles Landseer, o qual viajava para o Brasil acompanhando o embaixador Sir Charles Stuart, em 1825, teve ocasião de esboçar aspecto de Vitória para o seu álbum de desenhos que permaneceria inédito e que viria a pertencer ao colecionador Cândido de Paula Machado.

Nos três últimos meses do ano de 1826, andou pelo Espírito Santo o Coronel Eduardo Jacob Bridges. Prestava assistência técnica aos trabalhos de exploração das minas de ouro do Castelo, abandonadas há cinqüenta anos. Visitava a Província como representante de uma companhia inglesa de mineração. Dois anos antes da sua viagem, registrava-se a visita, àquelas minas, do explorador alemão Baumer.

O Dr. Johan Julius Linden, natural de Luxemburgo, a 24 de dezembro de 1836, desembarcava no Rio de Janeiro, investido da missão que lhe confiara o governo belga, coadjuvado pelo desenhista N. Funck e pelo zoologista Auguste Guiesbreght. Durante um ano e meio, os três percorreram as províncias do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo, onde organizaram coleções zoobotânicas, que foram expostas ao público de Bruxelas.

Um alemão da Silésia, Theodor Peckolt, chegou ao Brasil em 1847 e viveu entre nós quase toda uma existência (65 anos) dedicando-se ao estudo das plantas. No ano seguinte, ele começou a viajar a cavalo pelas províncias do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais. Seus conhecimentos farmacêuticos ajudaram-no a socorrer aos doentes que encontrava nas fazendas onde ele se hospedava e dessa maneira conseguia trocar o crédito dos honorários a que fazia jus por presentes que recebia de objetos de História Natural, incorporados às suas coleções.

Em começos de 1850, Peckolt demorou-se entre os índios botocudos NAC-NE-NUCKS do Rio Doce, de lá regressando ao Rio de Janeiro onde se estabeleceu com uma farmácia. Resolvendo transferir-se para Cantagalo, lá fixou residência e viveu durante dezessete anos.

Ocorre-nos mencionar a imigração de norte-americanos no Espírito Santo. A partir de 1860, quando a Carolina do Sul se proclamava independente, nos posteriores cinco anos, os sulistas começaram a abandonar as casas devastadas, em busca de paragens onde encontrassem segurança e paz. O Brasil viu com bons olhos aquele movimento imigratório. No começo de 1868 (segundo escreveu o viajante Richard Burton), quatrocentos lavradores ianques se espalhavam pelo Rio Doce, Linhares e Guandu. Chegaram em algumas levas, mas não se fixaram, desertando para outros lugares. Aliás, não eram propriamente norte-americanos, e sim: espanhóis, franceses, russos, ingleses, de diferentes ofícios, reunidos em Nova Iorque.

Em 1873, alguns americanos extraíram pequena quantidade de ouro nas minas de Castelo, reexplorando uma cata aberta e abandonada, no Limoeiro.

Dois americanos, Roberto Wartons e Benjamim Hunter, segundo escreveu, em relatório, o Dr. Antônio Dias Pais Leme, em 1870, viajaram pelo Rio Doce, pretendendo estabelecer uma Companhia de Navegação para singrar aquele rio. Desejavam inaugurar uma linha direta entre a Província e a América do Norte, com escalas em portos nacionais e estrangeiros. Vitória seria a sede da Companhia e os capixabas se encheram de júbilo com a alvissareira notícia. Infelizmente, os planos morreram no nascedouro.

 

A navegação do Rio Doce faz lembrar a aventura de João Diogo Sturz. Em 1826, o engenheiro João de Monlevade lançava os fundamentos da sua fábrica de ferro mineira. Sturz, brasileiro naturalizado, interessou-se pelo empreendimento e naquele ano desceu o Rio Doce em viagem de exploração. Ficou estabelecido o plano de conduzirem, rio acima, os pesados maquinismos que outro engenheiro, sócio de Monlevade, Lourenço Aquiles Lenoir, fora encomendar na Europa, em 1824. Finalmente, a pesada carga (mais de sete. mil quilos) saía do Rio de Janeiro a 18 de setembro de 1827, embarcada numa sumaca que era comboiada por pequenas embarcações de guerra. A 12 de novembro, o eligenheiro Lenoir escrevia, de Vitória, ao francês Guido Tomás Marlière, comandante dos Quartéis do Rio Doce, solicitando o auxílio de cinco canoas para subir a preciosa carga naquele rio. Tendo em vista as dificuldades de navegação, Marlière atendeu com víveres, doze canoas e alguns índios botocudos civilizados. A dois de março, as máquinas de Monlevade já se encontravam entre a vila de Linhares e a cachoeira das Escadinhas. E, através de todos os riscos imagináveis, entre os meses de dezembro e abril, o engenheiro Lenoir levava a bom termo o audaz empreendimento. Essa viagem teria inspirado a Sturz criar uma Companhia de nacionais e estrangeiros de navegação de barcos a vapor. Foi formada em Londres, no mês de agosto de 1833, e tomou o nome de Companhia do Rio Doce. Para demonstração à Companhia, o engenheiro Henry Hunphrens levantou, em 1836, uma planta topográfica do rio. E a Companhia Inglesa (conforme foi conhecida), incentivou as atividades: João Diogo Sturz partiu da Inglaterra num vapor de ferro, trazendo máquinas de serrar, alguns operários es-pecializados e diversos instrumentos e ferramentas. Chegou a Vitória em fins de agosto de 1840 e entrou no Rio Doce no mês seguinte.

Numa expedição prévia, o oficial encarregado havia construído, com o material que se destinava à ereção de casas, um barracão em local insalubre, do que resultou adoecer, de impaludismo, todo o pessoal da expedição. Alguns dos melhores empregados faleceram e os trabalhos sofreram interrupção por cinco meses, no final dos quais ficou decidido que seria abandonado tal lugar miasmático. E malogrou-se a tentativa da Companhia de construir, no estabelecimento do Rio Doce, um barco menor, a vapor, para navegar o rio, demandando menos de dois palmos de fundo, utilizando o maquinismo há tempo importado. Do mesmo modo, não vingou a navegação do primeiro vapor, que o Governo manteve detido por alguns meses, no atendimento a formalidades burocráticas, só permitindo o seu regresso, ao Rio Doce, em março de 1841.

 

Por fim, "a casa da Companhia Inglesa, entre Linhares e a fazenda do Alexandre Calmon, queimou-se", conforme anotou, em sua cadernetinha de bolso, o Imperador Pedro II, ao visitar aquelas paragens, no ano de 1860.

Nesse ano da visita imperial ao Espírito Santo, o Dr. Tõlsner publicou, na Alemanha, as suas notas de viagens à terra de Domingos Martins, particularmente o que ele observou na Colônia de Santa Leopoldina e sobre os botocudos: DIE COLONIE LEOPOLDINA IN BRASILIEN Gottingen, 1860.

Eduardo Wilberforce, aspirante a oficial da corveta inglesa, a vapor, GEYSER, percorreu a costa espírito-santense em setembro de 1851, com o propósito de reprimir o tráfico de escravos africanos. Ele deixou registradas as suas impressões da viagem num livro que publicou em Londres cinco anos depois, cuja tradução parcial Afonso de E. Taunay divulgou no JORNAL DO COMÉRCIO.

Wilberforce ficou encantado com a baía de Vitória, onde o brigue, com os cutelos desferrados, entrou suavemente "como uma ave marinha de asas abertas", enquanto o poeta-viajante avistava as ilhas, vestidas de verdes cactos vicejantes e profusa vegetação, sob cuja "ramalhenda cortina descansam os beija-flôres". Assim escreveu, em versos que Taunay traduziu e Norbertino Bahiense transcreveu no livro — "O Convento da Penha", obra classificada em 1° lugar no PRÉMIO CIDADE DE VITÓRIA, precisamente cem anos depois da viagem do jovem aspirante inglês. Em seu livro, Wilberforce anotou a lenda de escravos, que ouviu, referente a "pequeno cruzeiro branco de alvenaria", assentado numa rocha, à entrada da baía, em Vila Velha. Segundo essa lenda, quando ocorriam brigas entre os escravos de Vitória, que nos dias de folga, costumavam ir a Vila Velha, onde se embriagavam, era comum que acabassem esfaqueando-se, ficando algum assassinado. Se o criminoso conseguisse correr, a tempo de abraçar aquela cruz, antes de ser detido, estava legalmente livre. Mas se fracassasse na tentativa, podia considerar-se um condenado à morte. Ilustrando comentário à tradução de Taunay, o historiador Mário Aristides Freire publicou fotografia do cruzeiro lendário na revista VIDA CAPICHABA.

A impressão de Wilberforce sobre as fortalezas de Vitória era a de que "não passavam de dois fortins de taipa", sem condições de agüentar as balas dos canhões de sessenta e oito libras, já em voga, naquele tempo. Dentre alguns belos edifícios da cidade, notadamente o Palácio do Governo, o jovem aspirante achou que a maior parte dos prédios eram pequenos e sujos. Algumas ruas eram imundas parecendo a cidade estar em decadência. Visitou o presidente da Província, o bacharel José Bonifácio Nascentes de Azambuja, "personagem baixote e gorducho que vestia paletó com botões de latão". Em frente ao edifício do Palácio, viu a grande praça tomada por um capinzal.

Um tenente do GEYSER comprou, na cidade, um pacote de rendas como verdadeira pechincha. Wilberforce duvidou da autenticidade do produto e comentou, ironicamente, que o oficial teria comprado "rendas inglesas" a preço quatro vezes superior ao das casas especializadas, como BOBBIN AND CO., pois o produto da indústria regional, que lhe mostraram os lojistas muito displicentes de Vitória, pareceu-lhe rústico.

Em Vila Velha, existiam algumas fábricas de redes de algodão cru, muito fortes, com dimensão dos bastidores de sete pés de comprimento por três de largura, vendidas entre seis a oito mil réis, preços que pareceram a Wilberforce menores do que os de outra parte qualquer. Ele não teve permissão do médico de bordo para visitar nem Vila Velha nem o Convento da Penha; foi obrigado a se restringir às observações dos seus colegas que lá estiveram: o Comandante Eduardo Tatham e o Primeiro Tenente John H. Crang. Eles notaram, no Convento, a existência de um órgão e documentaram a visita no livro de assinaturas, a 3 de setembro de 1851.

O jovem viajante viu numa ilha da baía de Vitória numerosos pretos africanos que haviam sido desembarcados, clandestinamente, de barcos negreiros.

No Porto, ancoravam dois navios recentemente apresados, tumbeiros, sendo um deles brigue de trinta toneladas, dois  vindo de Cambinda, com cento e oitenta escravos.

O comodoro Tatham, cuja missão era patrulhar da Bahia a Santos, não encontrou nenhuma irregularidade na costa capixaba. Em todo o seu cruzeiro, só pôde julgar como suspeito, e apreendeu, na costa carioca, o veleiro MAGANO, levado para a ilha mediterrânea de Santa Helena. Não fez flagrante do tráfico, mas à sua argúcia pareciam evidentes os indícios da vil missão achados no brigue brasileiro: grilhões, anjinhos, ampla câmara, semelhante às existentes nos navios negreiros, destinadas à acomodação das escravas, uma bandeira portuguesa, além do excesso de água potável, guardada em onze grandes tonéis de madeira e grande bateria de cozinha, composta de caldeirões e tachos com capacidade para o preparo de meio milhar de refeições, enquanto a tripulação do barco era de apenas treze pessoas...

Voltando aos viajantes naturalistas, é de observar que um grande motivo de interesse e atração do Espírito Santo para eles, foi o índio botocudo. A começar do Príncipe de Neuwied, cuja valiosa monografia não foi superada e de quem nos ocuparemos em capítulo especial, destacaríamos os estudos de outros dois viajantes, também tratados mais circunstanciadamente: o Barão de Tschudi e Charles Frederick Hartt e mais: M. Serres; Philipe Rey (1878); Ernesto Garbe, do qual o Museu Paulista conserva um exemplar de macaco SAIAÇU, colecionado em Colatina, no ano de 1906; Herman von Ihering (1911); Henri Manizer (1915) e o geólogo norte-americano — John Casper Branner, companheiro de trabalhos de Hartt por dois anos, isto é, desde a sua chegada ao Brasil, em 1875, até 1877. Na meia centena de publicações que ele deixou, arrolam-se as NOTES ON THE BOTOCUDOS AND THEIR ORNAMENTS, (1888) e THE LIP AND EAR ORNAMENTS OF THE BOTOCUDOS (1893).

Paul von Ehrenreich, notável antropólogo germânico, no ano de 1884, deteve-se por alguns meses no Rio Doce, dedicando-se ao exame dos botocudos, em especial dos aldeados às margens do rio Pancas, e divulgou os seus estudos em alemão ainda não traduzido para o vernáculo: "A TERRA E A GENTE DO RIO DOCE", 1891-92 e "SOBRE OS BOTOCUDOS DAS PROVÍNCIAS BRASILEIRAS DO ESPIRITO SANTO E MINAS GERAIS", 1887. O jornal O CACHOEIRANO (edição de 8-2-1885), ao registrar a passagem do naturalista que "apesar de ainda moço, já contava uma viagem ao Pólo Norte, pela vila de Cachoeiro de Itapemirim, com o objetivo de colecionar "objetos antropológicos", acrescentava: "Tendo já feito uma longa excursão pelo vale do Rio Doce, indo até o Porto do Souza, pretende SS. daqui seguir para o Rio Pardo, S. Manuel e Manhuaçu e de lá para o Guandu".

O viajante e naturalista William Steains foi outro estrangeiro que andou pelo Rio Doce, segundo documentou o JORNAL DO COMÉRCIO. A 7 de junho de 1885, ele partia do Rio de Janeiro no paquete MAYRINK, rumo a Vitória. Esteve na vila de Linhares, no Guandu, em Figueira e nos afluentes do norte do Rio Doce: São José, Pancas, Suaçu Grande e Tambacuri. Sua viagem foi relatada à Régia Sociedade de Geografia de Londres, que a divulgou no seu Boletim, com um mapa da região explorada. Steains estimou em sete mil o número de botocudos existentes nas matas virgens do norte do Rio Doce. Mencionou o pau-brasil encontrado nas cabeceiras do rio São José e as lavras de ouro que a tradição afirmava ter havido, outrora, na região, bem como o ouro que fora achado nas vizinhanças do Coité; os cristais de rocha, em Onça, e sinais de minério de ferro, observados em alguns locais por onde passou. Ele corrigiu o erro que os mapas, até então conhecidos, cometiam ao representar os rios São Rafael e Preto como desaguando na lagoa Juparanã. Verificou que o único rio tributário da lagoa é o São José, do qual ele se considerou como o primeiro explorador. Em suas margens, deparou com os índios pojichas, tribo constituída dumas setenta pessoas, com a qual só conseguiu entrar em contato no Pancas, anotando alguns dos seus aspectos e costumes. Observou que se casavam muito novos: um rapaz duns vinte anos havia se casado com uma menina de nove anos. Eram longevos; aceitavam a poligamia, mas raro o índio que tinha mais de uma mulher. O explorador estimou a população de Figueira em setecentos habitantes pobres; observou que o café do Guandu, levado por terra, a Vitória, gastava dez dias de viagem; assinalou que, nessa povoação, ainda existiam uns quatro ou cinco norte-americanos, remanescentes dos colonos imigrados após a Guerra de Secessão. Em janeiro do ano seguinte (1886), ele descia até São Geraldo, estação da Estrada de Ferro Leopoldina, regressando ao Rio de Janeiro.

Eugênio Husac, petrógrafo e mineralogista austríaco, havendo empreendido algumas viagens através do Brasil, também visitou o Espírito Santo no princípio deste século. Em algumas das sessenta e tantas publicações científicas que fez, ocupou-se dos minérios encontrados no território capixaba. É pena que o seu nome seja tão esquecido.

Para último capítulo destes estudos, escolhemos uma viajante que esteve no Espírito Santo em 1888, a Princesa Teresa da Baviera. Versada nos estudos de antropologia, etnografia, zoologia, mineralogia, paleontologia e botânica, ela levou para o seu herbário particular, na cidade natal de Munich, valiosa coleção de plantas, dedicação que lhe rendeu a homenagem dos botânicos, nos gêneros: THERESIA C. Kock, das LILIÁCEAS e THERESIA CLOS., das LABIATAS.

Se pretendêssemos transpor o século dezenove, as nossas pesquisas se alongariam na rota do geógrafo Paul Walle, encarregado pelo Ministro do Comércio e Sociedade de Geografia Comercial de Paris, de estudar diversos Estados do Brasil, tendo ele desembarcado em Vitória no vapor ACRE, do Lóide Brasileiro, em outubro de 1910. O aspecto colonial que ele observou nas suas impressões e fotografias da cidade, foi pouco depois transfigurado pelo dinâmico governo de Jerônimo Monteiro. Fez um resumo dos dados geoeconômicos do pequeno Estado em 44 páginas impressas, que iriam constituir os dois capítulos iniciais do seu livro: AU BRESIL — DE L'URUGUAY AO RIO SÃO FRANCISCO, volume in-8º, com oito ilustrações e um mapa reduzido do Espírito Santo.

Interessar-nos-íamos pela pequena excursão a Mimoso, dos três zoólogos, professores: Breslau, Sanson e Hill, realizada em 1913, que estavam, particularmente, a estudar os marsupiais.

Cogitaríamos das investigações científicas de uma ex-diretora do Museu Goeldi, do Pará, Dra. Emília Snethlage que, na primeira década deste século, esteve no baixo Rio Doce e permaneceu alguns meses numa cabana, às margens da lagoa Juparanã.

Ernest Wagemann, outro viajante estrangeiro que seria objeto de maiores considerados, visitou nos anos de 1913 e 1914, durante quatro meses as colônias alemãs do Espírito Santo. Fez estudos de estatística, demográficos, sociais e geográficos, condensados em livro que editou na Alemanha, em 1915. Com o título — A COLONIZAÇÃO ALEMÃ NO ESPIRITO SANTO. Foi apresentada, em 1949, uma tradução pelo IBGE, feita por Reginaldo Sant'ana, que suprimiu alguns pequenos trechos do texto original, bem como o documentário fotográfico estampado na referida edição. O tradutor assinalou a importância dos dados estatísticos concernentes à natalidade e à baixa mortalidade que Wageman levantou nas colônias alemãs do território capixaba. E ajuntou que, em 1938, os cientistas germânicos Gustavo Giemsa e Ernest G. Nauch visitaram as mesmas regiões do Espírito Santo, para comprovar tão auspiciosas afirmações, enunciando tais estudos no livro: EINE STUDIEN REISE NACH ESPIRITO SANTO, lançado em Hamburgo, no ano de 1939, e, ao que parece, ainda inédito em português.

Henri Henrikovitch Manizer não fugiria ao escopo de nossos comentários. Funcionário do Museu Etnográfico de Petrogrado, permaneceu durante seis meses entre os botocudos do Rio Doce, no ano de 1915, onde colheu observações de grande valor, condensadas no trabalho: "Os Botocudos (Borunas), segundo observação feita durante minha estada entre eles em 1915", publicado no ANUÁRIO DA SOCIEDADE RUSSA DE ANTROPOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE PETROGRADO, 1916. Esse ensaio foi traduzido para o francês e publicado, em 1919, nos ARQUIVOS DO MUSEU NACIONAL DO RIO DE JANEIRO, vol. XXII.

O etnógrafo Manizer iniciou as pesquisas pelo grupo dos crenaques, do rio Mutum, e afluentes da margem norte do Rio Doce. Visitou os aldeamentos do posto oficial do Pancas (cinqüenta quilômetros de Colatina) e uma povoação abandonada, no Rio Doce, próxima de Lajão. No seu regresso à Rússia, divulgou parte dos estudos. Ainda moço, foi vitimado pelo tifo exantemático (21 de junho de 1917), quando, na frente de guerra rumena, alistou-se como voluntário.

 

Fonte: Viajantes Estrangeiros no Espírito Santo, 1971
Autor: Levy Rocha
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2016

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