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Exposição - Franciscanos no Espírito Santo

Missão Franciscana

Paróquia Nossa Senhora do Rosário - Missão Franciscana desde 1942 – 70 Anos

 

O ano de 2012 traz a memória dos setenta anos de presença dos franciscanos na animação da Paróquia Nossa Senhora do Rosário e, por isso, converte-se num Ano Jubilar. A recordação agradecida pela dedicação e idealismo dos franciscanos que andaram por essas terras, bem como a lembrança da alegre receptividade e vigoroso envolvimento do povo de Vila Velha na missão evangelizadora, dão formas às motivações dos eventos e celebrações que acontecerão no decorrer do ano.

Entre as iniciativas do Ano Jubilar está a publicação de trechos selecionados das Crônicas Franciscanas que registram os primeiros passos dos franciscanos no território da Paróquia.

 

Crônica Franciscanas

 

Padre Raymundo Pereira de Barros, o último pároco diocesano de Nossa Senhora do Rosário de Vila Velha, deixou escrito no Livro do Tombo que não conseguira, apesar de muita procura, dados históricos sobre a Paróquia. A igreja nasceu junto com a freguesia, antes da fundação do Rio de Janeiro. Em 1535 a freguesia e a igreja já estavam dedicadas à Mãe de Deus, a Senhora do Rosário. A primeira igreja, construída por Vasco Fernandes Coutinho em 1535, certamente é a igreja mais velha do Espírito Santo. Discutem os historiadores se não é a mais antiga (em pé e em uso) do Brasil. A paróquia só veio a ser criada em 1750. A história guardou os nomes dos párocos que se sucederam na segunda metade do século XVIII: padre Manoel Lopes de Abreu, padre Francisco do Reis, padre Antônio Martins Guerra, padre, Manoel Gonçalves Vitória, este empossado em janeiro de 1797, quando a paróquia tinha “de 700 a 800 almas obrigadas aos sacramentos”.

 

Crônica I

 

“O território da Paróquia coincide com as divisas do Município. Conta este 15 mil habitantes, assim distribuídos: seis mil no distrito da cidade; oito mil no distrito de Paul; mil no distrito do Jucu. Tirando a faixa estreita da costa, em que se condensa o grosso da população, a paróquia alastra-se por brejos e mangues. Em Vila Velha temos uma espécie de bairros característicos: Inhoá, Machambomba, Jaburuna, Toca. Existem ‘ilhas demográficas’: Argolas, Paul, Vila Batista, São Torquato, Cobi, Alecrim, Garrido, Ilha das Flores (é terra firme), a Ilha dos Bentos (também terra firme, terreno que pertencia ao Convento da Penha), Aribiri, Camboapina, Ponta da Fruta, Jabaeté, Jaguaruçu, Caçaroca. O distrito de Paul é o de maior densidade demográfica em todo o Estado do Espírito Santo” (Frei Leopoldo Pires Martins, Crônica de 1943).

 

Crônica II

 

“Em nossa querida paróquia não há indústrias. Existe uma fábrica de balas, que sustenta uma boa centena de operários, mas que esteve a pique de fechar por ocasião do ‘quebra-quebra’, após a declaração de guerra. Em geral, os salários são ínfimos. Um trabalhador não qualificado faz seus cinco cruzeiros diários, Nessa categoria não entram os ‘biscateiros’, cujo ganho fica sujeito a oscilações. Uma doméstica percebe 30 a 40 cruzeiros mensais. Não obstante, o custo de vida obedece à coordenação e mantém-se elevado. Alguns preços dão-nos a impressão de estarmos na praça do Rio ou de São Paulo. A população vive de pesca, extração de lenha, de pequenas explorações domésticas. Dito entre parênteses, o comércio de lenha equivale a um extermínio sistemático da alta vegetação. Antigamente Vila Velha estava cercada de matas” (frei Leopoldo Pires Martins, Crônica de 1943).

 

Crônica III

 

“Enquanto Cariacica e outras paróquias da diocese são homogêneas, Vila Velha se compõe de muitos elementos adventícios. Esta é uma das razões que dificultam a formação do espírito paroquial. E lembre-se também que a paróquia esteve abandonada por largos anos. Alguns vigários residiam em Vitória, de onde governavam outras paróquias simultaneamente. Entre os párocos de Vila Velha houve que nunca pregou durante seu paroquiato, por lhe faltar o dom da palavra. Mas houve também vigários de têmpera como o jovem e ardente padre Joaquim Mamede da Silva Leite, ordenado em Vitória por Dom João Nery, de quem foi mais tarde bispo auxiliar em Campinas. Um vulcão de zelo era o padre Raimundo Pereira Barros, o último vigário de clero secular, que deixou a paróquia nas mãos dos franciscanos. Muita gratidão lhe devem os franciscanos pela boa estrada que nos deixou aberta na Paróquia” (Frei Leopoldo Pires Martins, Crônica de 1943).

 

Crônica IV

 

“Pelo livro de Tombo, sabemos que o Sr. Bispo Diocesano Dom Luiz Scortegagna em abril de 1942 procedeu a várias promoções e remoções entre seu clero, em consequência das quais Vila Velha ficava vaga, porque o padre Barros fora nomeado Cura da Catedral, campo mais vasto para as suas dinâmicas atividades. O Sr. Bispo pediu então aos dois Frades da Penha que tomassem conta da paróquia provisoriamente, enquanto ele se entendesse com a direção da Província. Assim, Frei Gil Maria Vanderley desceu da Penha e pastoreou a paróquia durante o mês de maio. Foi, por assim dizer, o introdutor do burel e das maneiras franciscanas na Paróquia de Vila Velha. Seu talento organizador se mostrou muito alto nas missões já marcadas para a segunda quinzena de maio. A partir de junho, Frei Gil retorna à Penha e desce seu companheiro Frei Luís Wand, que governou a paróquia até a chegada, em setembro, do Vigário definitivo, escolhido pela Província e nomeado pelo Sr. Bispo, Frei Leopoldo Pires Martins (Frei Leopoldo Pires Martins, Crônica de 1943).

 

Crônica V

 

“Empossado que foi a 27 de setembro de 1942 pelo Revmo. Padre Definidor Frei Ernesto Emmendoerfer, o novo vigário imediatamente se reuniu com os dois Confrades da Penha, que seriam seus coadjutores e auxiliares. Juntos estabeleceram um plano de trabalho. O Vigário ficou com o movimento na cidade, a direção das associações existentes, a visita às capelas da roça durante a semana, a assistência religiosa à Penitenciária do Estado (situada na Paróquia) e a responsabilidade por qualquer evento que pudesse ocorrer. Frei Luís, superior da Penha, tomou conta das capelas de Aribiri, Paul e São Torquato e de tudo o que respeitasse essas capelas. Frei Gil Maria ficou com todo o serviço religioso no Convento aos domingos e dias santos. Depois de sete meses, posso dizer que na paróquia nada se faz de importante sem prévia combinação dos três Confrades (Frei Leopoldo Pires Martins, Crônica de 1943).

 

Crônica VI

 

“Na matriz existem as seguintes associações: Apostolado da Oração, Confraria do Rosário, Associação de São Judas Tadeu, Obra das Vocações, Liga de Jesus Maria e José, Sociedade de São Vicente. A rede de associações não envolve três grupos vitais: rapazes, moças e crianças. No Bispado são raras as paróquias que tenham a Pia União das Filhas de Maria. Nas três capelas trabalham as Conferências Vicentinas, o Apostolado e a Liga. Saímos a benzer as casas e tivemos assim ocasião de organizar um fichário paroquial. Vila Velha será cabeça de ponte para nossas expedições apostólicas em terras que já foram palmilhadas pelos Confrades dos séculos passados a partir do Convento São Francisco da Vitória. Há muito que semear. Deus fortifique a mão abençoadora franciscana” (Frei Leopoldo Pires Martins, Crônica de 1943).

 

Frei Leopoldo Pires Martins foi transferido em janeiro de 1944. Seu sucessor deveria ser Frei Bernardo Ronchi, que chegou a Vila Velha doentíssimo, achacado pela malária e sem nenhuma condição de governar uma paróquia, Ficou no Convento. Frei Leopoldo permaneceu como pároco até 16 de abril, quando foi nomeado pároco Frei Luís Wand, que assumiu no dia 22 de abril e recebeu, em maio, um coadjutor na pessoa de Frei Valentim Tambosi. O terceiro pároco franciscano de Vila Velha foi Frei Anacleto Wiltuschnig, que tomou posse no dia 28 de fevereiro de 1945, permancenendo Frei Luís Wand como coadjutor. Chegou novo coadjutor na pessoa de Frei Calixto Fruet (mas com moradia na Penha). Frei Luís foi substituído por Frei Cornélio Abeln em janeiro de 1948 que, por sua vez, foi substituído em fevereiro de 1949 por Frei Niceto Werner. No dia 24 de fevereiro de 1952, Frei Aniceto Kroker substituiu no cargo de pároco a Frei Anacleto. O coadjutor Frei Niceto foi substituído em fevereiro de 1955 por Frei Firmino Matuschek, que mudou o rumo da história da Paróquia Nossa Senhora do Rosário.

Frei Aniceto Kroker recebeu a paróquia geograficamente diminuída. Fora desmembrada a Paróquia de Santa Teresinha do Paul, por decreto datado do dia 31 de janeiro de 1955. Frei Aniceto adoeceu gravemente, ficando hospitalizado no Rio de agosto a dezembro. Foi substituído por Frei Firmino que tomou posse definitivamente no dia 11 de março de 1956, e recebeu como coadjutor Frei Duarte Augusto da Silva. Prestamos homenagem a esses Franciscanos, lembrando a data de sua morte: Frei Gil Maria Vanderley (+1984), Frei Luís Wand (+ 1955), Frei Leopoldo Pires Martins (+1978), Frei Valentim Tambosi (+1997), Frei Anacleto Wiltuschnig (+1979), Frei Calixto Fruet (+1966), Frei Cornélio Abeln (+1972), Frei Niceto Werner (+1986), Frei Aniceto Kroker (+1994), Frei Duarte Augusto da Silva (+2007), Frei Firmino Matuschek (+1980).

A primeira paróquia a se desmembrar do Rosário foi a de Santa Teresinha do Paul, por decreto datado do dia 31 de janeiro de 1955. A segunda foi a de Santa Maria Mãe de Deus (Ibes), criada em 1966. A terceira foi a da Santíssima Trindade, dia 22 de dezembro de 1999. A quarta foi a de Nossa Senhora da Glória, no dia 26 de dezembro de 1999. A quinta foi a de Nossa Senhora das Graças, em 29 de fevereiro de 2004. A sexta foi a de São Francisco de Assis, criada em 2 de fevereiro de 2007. A sétima foi Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no dia 3 de dezembro de 2008. Netas da Paróquia do Rosário são a de Nossa Senhora dos Navegantes, criada no dia 22 de fevereiro de 2002; a de São Lucas, criada no dia 31 de dezembro de 2002; a de Nossa Senhora Aparecida, criada no dia 30 de novembro de 2002. As três são filhas da Nossa Senhora Mãe de Deus, do Ibes. Netas também são a Paróquia de Santa Rita, desmembrada de Cobilândia e Paul no dia 17 de dezembro de 2006, e a Paróquia São Frei Galvão, desmembrada de São Lucas no dia 6 de fevereiro de 2011.

O Município de Vila Velha, extensão geográfica da Paróquia do Rosário em 1942, tem hoje quase 500 mil habitantes. A atual Paróquia do Rosário, depois de ter dado à luz doze outras paróquias, tem em torno de 48 mil habitantes, assim distribuídos: Comunidade Santa Clara e São Marcos: 7.720 habitantes. Comunidade Sagrada Família: 4.500. Comunidades São Sebastião e Cristo Rei: 11.250. Comunidade Cristo redentor: 4.350. Cristo Ressuscitado e São Benedito: 8.620. Comunidade do Rosário e Santuário: 11.480. É visível o esvaziamento demográfico do centro de Vila Velha em benefício do comércio e repartições públicas. Grande parte dos que compõem a Comunidade do Santuário mora geograficamente fora, reforçando a discussão sobre a validade geográfica dos limites das paróquias urbanas.

A Paróquia Nossa Senhora do Rosário tem uma característica. Conserva o título, mas suas secretarias e a morada dos frades ficam junto ao Santuário do Espírito Santo, onde se celebra diariamente a Liturgia. A pedra fundamental do Santuário foi posta na festa de Pentecostes, 25 de maio de 1958, por Dom João batista da Motta e Albuquerque. Toda a obra esteve sob os cuidados de Frei Firmino Matuschek. Como o terreno fosse alagadiço (por ele trafegavam canoas de pescadores), o Santuário foi plantado sobre 139 estacas de concreto, com oito metros de comprimento, em que se gastaram 20 toneladas de ferro. O Santuário levou oito anos para ser inaugurado, ainda por Dom João Batista da Motta e Albuquerque, no dia 21 de abril de 1967, presentes quase todos os Franciscanos que haviam trabalhado desde 1942 na Paróquia do Rosário e no Convento Nossa Senhora da Penha.

 

Fonte: Santuário de Vila Velha (Frei Clarêncio)
Acervo: Casa da Memória de Vila Velha
Compilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2012



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