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Ação da Igreja na época Colonial – Por João Eurípedes Franklin Leal

Igreja Nossa Senhora do Rosário

A Igreja Católica, como em todo o restante do Brasil, deixou marcada profundamente sua presença e influência, seja através do clero secular, seja a através das ordens religiosas. Indubitavelmente a Ordem dos Jesuítas ou Companhia de Jesus foi a mais marcante na vida do Espírito Santo seguida em importância pelos Franciscanos e Carmelitas.

1) A Ordem dos Jesuítas

A mais antiga informação sobre os jesuítas no Espírito Santo refere-se à passagem, em fins de 1549, dos Padres Leonardo Nunes e Diogo Jácome que estavam se dirigindo a São Vicente. Estiveram na Vila do Espírito Santo (Vila Velha) durante cerca de um mês, esperando o navio ser consertado. E foi aqui adquirido o primeiro irmão jesuíta em terras do Brasil, que depois seguiu também para São Vicente. Era o ferreiro Matheus Nogueira(205).

Na Páscoa de 1551, chegou a Vila do Espírito Santo o Padre Afonso Brás acompanhado do irmão Simão Gonçalves que vinham para se estabelecer na capitania. Em Vila Velha, Afonso Brás cuidou de levantar uma igreja dedicada a de N. S. do Rosário(206). Recebendo terras na ilha de Duarte de Lemos, Afonso Brás lançou fundamentos, ainda em 1551, da futura Casa de Santiago que depois ainda no século XVI se tornou Colégio e Residência. A data da inauguração da Igreja de Santiago parece ter sido 25 de julho de 1551(207). No ano seguinte, quando da visita do primeiro Governador Geral do Brasil, Tomé de Sousa, juntamente com o Padre Nóbrega oraram na Igreja de Santiago. Em fins de 1553 chegou a Vitória o Padre Brás Lourenço, que veio substituir o Padre Afonso Brás que seguiu para São Vicente, juntamente com outro jesuíta e inclusive com o ainda Irmão José de Anchieta. O Padre Brás Lourenço "O Apóstolo do Espírito Santo", chegou ao Brasil a 13 de julho de 1553, com a esquadra do 2° Governador Geral, juntamente com outros jesuítas chefiados por Luís da Grã(208). O Padre Brás Lourenço ajudado pelo Irmão Antônio de Atouguia, com 1556, criou a Aldeia de Santa Cruz, a 12 léguas do norte da Vila da Vitória. Neste mesmo ano foi criada a Aldeia de N. S. da Conceição da Serra da qual ficou encarregado o Padre Fabiano de Lucena. Também neste ano, novos índios desceram do sertão e se acamparam ao sul de Vitória, o que levou o Padre Brás Lourenço a fundar a Aldeia do Campo, que depois se uniu à também criada Aldeia de Araçatiba resultando desta união a formação da fazenda do Campo de Araçatiba. Em 1564 o Padre Brás Lourenço foi substituído pelo Padre Manuel da Paiva. Uma epidemia de varíola em 1565 matou o Padre Diogo Jácome, que foi enterrado na Igreja da N.S. da Conceição (Serra) onde situava a Aldeia do Gato Grande que era distante meia légua da Aldeia de Araribóia (aldeia de S. João). Durante a visita de inspeção do Padre Anchieta, em 1569, foram lançadas as bases da criação das Aldeias de Reritiba, Guarapari, e Reis Magos.

Em 1573 foi iniciada a construção da nova Igreja de Santiago e em 1580 os jesuítas fundaram o Colégio e construíram a Igreja dos Reis Magos na aldeia que mais tarde foi denominada Vila de Nova Almeida. Em 1585 na embocadura do Rio Guarapari construída uma capela dedicada a Santa Ana, por orientação do Padre José de Anchieta; que dois anos depois presenciou as comemorações da conclusão do Colégio de Santiago, como também da Igreja de Reritiba dedicada a N. S. da Assunção.

A figura principal dos Jesuítas, José de Anchieta, após 6 meses de enfermidade, faleceu a 9 de junho de 1597 em Reritiba, num domingo, sendo transportado para a Igreja de Santiago, em Vitória, onde foi sepultado. No fim do século XVI, havia no Espírito Santo quatro grandes aldeias com residência fixa: a de S. João, a de N. S. da Conceição, a de N. S. da Assunção e a de S. Inácio dos Reis Magos(209). Os Jesuítas fizeram inúmeras incursões ao interior, principalmente usando o rio Doce, com finalidades de busca a indígenas para catequizá-los.

Três foram as fazendas jesuíticas: Araçatiba, Muribeca e Itapoca, cada uma com seu trabalho especializado. Muribeca para a criação de gado, Araçatiba para engenho de açúcar e Itapoca para a produção de farinha de mandioca e cereais... A fazenda da Muribeca, situada no extremo sul do litoral, foi formada nos meados do século XVII pelo Padre André de Almeida e em 1694, possuía Casa e Igreja e 1639 cabeças de gado. Suas terras foram constituídas por doações do Conde de Castelo Melhor e pelo governador do Rio de Janeiro D. Álvaro da Silva Albuquerque, que se estendiam entre os rios Muriaé, Paraíba, Itapemirim indo desde o rio Guaximba, até a Ponta do Siri sendo 9 1/2 léguas de largura e 8 1/2  de fundos. Os jesuítas tentaram em 1701 organizar um engenho. Em 1739 uma enchente matou a quarta parte das 1730 cabeças de gado e 221 cavalos. Foram feitas então obras de drenagem que foram concluídas em 1744. Após a expulsão dos jesuítas a fazenda foi arrendada e arrematada por José da Cruz e Silva e os indígenas que ai viviam voltaram a vida selvagem.

A fazenda de Araçatiba, já em 1716 era residência e durante a administração do Padre Rafael Machado foi construído o engenho com a ajuda do rico fazendeiro, Jorge Fraga, que ao morrer em 1721 deixou toda sua fazenda aos jesuítas em troca de uma missa anual. Antes em 1719 já havia na fazenda o engenho, o depósito para açúcar e um barco para levar produtos para Vitória. A produção média anual de açúcar era 45 caixas sendo que em 1756 a produção foi de 80 caixas.

A terceira grande fazenda foi a de Itapoca, que foi organizada em 1739 produzia farinha de mandioca, cereais e hortaliças. Pouco antes de 1750 ela passou a ser Residência e Igreja. Anteriormente possuíram os jesuítas a fazenda de Carapina que foi recebida em doação do proprietário Miguel Pinto Pimentel, em 1644, quando ele morreu. Em 1666 já havia engenho de açúcar funcionando. Posteriormente foi vendida pelos jesuítas. Foi a partir de Aldeia dos Reis Magos que foram feitas muitas entradas ao interior chefiada pelos padres(210).

Mas vítimas da política da época, foi decretada a expulsão da Companhia de Jesus, pela Lei de 3 de setembro de 1759, assinada pelo Rei D. José I seguindo orientação de seu ministro o Marques de Pombal. Em relação ao Espírito Santo, foi nomeado a 10 de novembro, o Desembargador João Pedro de Souza Siqueira Ferraz, para na capitania prender membros da Companhia, recolher seus papéis e seqüestrar seus bens. O Desembargador chegou a Vitória a 4 de dezembro prendendo os cinco padres locais enquanto que esperava-se pela vinda dos padres do interior. Ao final reuniram 17 padres e irmãos que deixaram o Espírito Santo a 22 de janeiro, no barco Liburnia, com destino ao exílio após passarem pelo Rio de Janeiro(211). As conseqüências da expulsão dos jesuítas do Espírito Santo foram imediatas e consideráveis. O ensino desapareceu na capitania e só depois pela carta régia de 2 de maio de 1771 que se criou uma nova escola em Vitória para substituindo o ensino dos padres. Mas a realidade foi que em nenhum momento se conseguiu sucesso com esta substituição e a tal ponto chegou a falta de instrução na população que, paulatinamente, os habitantes passaram a usar mais a língua indígena que o português como idioma. Os indígenas já catequizados voltaram à vida primitiva e os trabalhos agrícolas desenvolvidos retrocederam pela falta de proprietários e trabalhadores. Quanto aos bens dos jesuítas, só foram inventados em 1780, e as Igrejas foram entregues ao Bispo do Rio de Janeiro exceto a Igreja de Santiago e o Colégio que foram incorporados ao patrimônio nacional. Foram leiloadas no Rio de Janeiro, a 17 de julho de 1782, todas as propriedades, terras e casas.

2) Os Franciscanos

O início da história desta Ordem Religiosa no Espírito Santo, confunde-se com a história do Frei Pedro Palácios.

Frei Pedro Palácios, nascido em Medina do Rio Seco, perto de Salamanca, Espanha, tomou o hábito franciscano em Castela e depois incorporou-se aos franciscanos da Arrábida em Portugal. Em 1558 chegou ao Espírito Santo estabeleceu num monte ao lado sul da barra da baía de Vitória onde, com auxílios dos moradores construiu no "campinho" uma capela dedicada a São Francisco colocando no altar um painel de Nossa Senhora e a imagem de protetor. Não se sabe quando foi iniciada a construção da Ermida da Penha. Sabe-se que Melquior de Azeredo foi um dos principais auxiliares na sua construção(212). E o Frei Pedro Palácios vivia nesta capela de São Francisco. Para a Ermida da Penha ele encomendou de Portugal uma imagem da Virgem com 76 centímetros. Pedro Palácios morreu a 2 de maio, de 1570 sendo enterrado no alpendre da ermida, mas seus restos mortais foram posteriormente translado para o convento de São Francisco, em Vitória, a 18 de fevereiro de 1609. Após sua morte a Ermida de N. S. da Penha ficou a cargo de devotos e amigos que fizeram algumas obras, mas durante dois decênios faltou sacerdotes na Penha. Sabe-se que em 1573 uma romaria de jesuítas subiu até a Ermida da Penha em agradecimento, por terem sido salvos de um naufrágio na foz do Rio Doce. Vasco Fernandes Coutinho (filho), o segundo donatário do Espírito Santo solicitou ao superior da ordem dos franciscanos o Custódio Frei Melquior de Santa Catarina, que estava na Bahia, que enviasse franciscanos recém chegados a Pernambuco para sua capitania, onde lhes seria entregue a Ermida da Penha. Quando em novembro de 1589 chegaram os primeiros franciscanos o Capitão-Donatário já havia falecido. Os dois religiosos apenas escolheram um terreno na Vila da Vitória e retornaram a Pernambuco só voltando em fins de 1590 ou inicio de 1591 quando lançaram então os fundamentos do futuro Convento de São Francisco... Por escritura as autoridades entregaram aos franciscanos a Capela da Penha. Em 27 de julho de 1616 iniciou-se o processo referente canonização do Frei Pedro Palácios. Grandes reformas e construções foram feitas na Capela da Penha em 1639, dando feitio ao que ainda hoje se vê. Em 1651 foi iniciada a construção do convento que foi terminada em 1660. Em 1770 houve uma reconstrução parcial do Convento e entre 1774 e 1777 foram feitas novas reconstruções e teve o calçamento da ladeira foi refeito. Desde 1802 funcionou por alguns anos no Convento um Estudo de língua indígena, destinado a instruir missionários. Entre 1835 e 1857 foram feitas reconstruções e o Convento da Penha foi visitado pelo Imperador D. Pedro II e sua comitiva a 20 de janeiro de 1860(213).

A outra importante obra Franciscana no Espírito Santo foi o Convento de São Francisco. O início dos trabalhos regulares dos franciscanos na Capitania deve-se ao Frei Antônio dos Mártires e Frei Antônio das Chagas. Em 1591 foi lançada a primeira pedra dos alicerces do convento e mais tarde, em 1595, iniciou-se a construção da Igreja. Funcionou desde 1596 como um noviciado, que durante quase 50 anos foi o único em toda região, até que em 1638 outro passou a funcionar no Rio de Janeiro. Ficou famosa a ação do Guardião do Convento de S. Francisco, Frei Manuel do Espírito Santo, quando da invasão holandesa de 1625. No século XIX o Convento de São Francisco serviu tanto de escola como de hospital de emergência durante as epidemias(214).

3) Outras Ordens Religiosas

Quanto a outras Ordens Religiosas ressaltamos a dos Beneditinos que chegaram à Capitania em 1589 sendo recebidas por D. Luiza Grinalda. O Frei Damião da Fonseca e o irmão Frei Damião da Fonseca estabeleceram-se provisoriamente na Vila Velha, mas em 1591 transferiram-se para a Vila da Vitória, para um local que foi cedido pela Câmara da Vila, hoje imediações da rua de São Bento(215).

Quanto aos Carmelitas, seu estabelecimento no Espírito Santo é controvertido mas a Capela do Colégio que foi reformada em 1914 possuía uma data, 1650, que apesar de expressiva não representa a fundação do convento.

Quando a 22 de dezembro de 1676 o papa Inocêncio XI criou o Bispado do Rio de Janeiro, a Capitania do Espírito Santo foi a ele ligada. Devida a dificuldade de comunicação entre o Rio de Janeiro e Espírito Santo foi criado o cargo de Vigário-Geral a 28 de junho de 1701 para melhor administração de vida religiosa na região''.

 

NOTAS

(205) Cartas Avulsas — 1550 a 1568.

(206) Maria Stella de Novais — História do Espírito Santo.

(207) P. Serafim Leite — História da Companhia de Jesus no Brasil.

(208) P. Serafim Leite – Novas Páginas da História do Brasil.

(209) P. Serafim Leite - História da Companhia de Jesus no Brasil.

(210) P. Serafim Leite — História da Companhia de Jesus no Brasil.

(211) Maria Stella de Novais — História do Espírito Santo.

(212) Derenzi - Biografia de Uma Ilha.

(213) Frei Basílio Rower O.F.M. — Páginas da História Franciscana no Brasil.

(214) Frei Basilio Rower O.F.M. - Páginas da História Franciscano no Brasil.

(215) Derenzi - Biografia de Uma Ilha.

(216) Maria Stella de Novais - História do Espírito Santo.

 

Fonte: Espírito Santo: História, realização Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (IHGES), ano 2016
Coleção Renato Pacheco nº 4
Autor: João Eurípedes Franklin Leal
Compilação: Walter de Aguiar Filho, fevereiro/2018

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