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Carta de Pe. Anchieta sobre Frei Pedro Palácios

Ao pé do Convento fez uma casinha pequenina à honra de São Francisco, na qual morreu com mostras de muita santidade. Na foto a Capelinha de São Francisco se encontrava em ruínas devido a um incêndio que quase a destruiu totalmente

Pe. José de Anchieta S.J. (1534/1597) nasceu em San Cristobal de La Laguna na Ilha de Tenerife. Tendo cursado Humanidades em Coimbra entrou na Companhia de Jesus, em 1551. Já em 1553 embarcou para o Brasil demorando-se algum tempo na Bahia, onde possivelmente terá conhecido seu conterrâneo Frei Pedro Palácios. Em outubro do mesmo ano conheceu de passagem para São Vicente, a capitania do Espírito Santo. Em Piratininga ensinou, sendo ainda clérigo. Em 1563, foi com o Pe. Nóbrega para Iperoig negociar o armistício com os confederados Tamoio. Permanecendo como refém, começou a composição do poema, em honra a Nossa Senhora. Ordenado sacerdote em Salvador, em julho de 1565, chegou a ocupar o cargo de superior de S. Vicente em 1567, e o de reitor do colégio da Bahia em 1577. Como provincial fundou várias casas no Espírito Santo, a partir do mesmo ano. Figura afinal como superior de Vitória de onde em 1594 governava ainda as aldeias de Rerigtiba, Guapararim, Reis Magos e Carapina, falecendo em Rerigtiba a 9 de junho de 1597. Frei Vicente do Salvador, já em 1627, apelidou o Pe. Anchieta de “Apóstolo do Brasil”.

 

Carta de Pe. Anchieta sobre Frei Pedro Palácios

Um contemporâneo e a um tempo patrício de Frei Palácios que tanto na Bahia como no Espírito Santo colheu informes sobre o ermitão-missionário franciscano foi o Pe. José de Anchieta, S.J. Em carta de 1672 dirigida ao colégio de Coimbra, o venerável servo de Deus Anchieta expressa a sua admiração pelo fundador da Penha. Eis os tópicos mais importantes:

“Na capitania do Espírito Santo há duas vilas de portugueses, perto uma da outra meia légua por mar. Em uma delas, que está na barra e chamam Vila Velha, por ser a primeira que ali se fez, está num monte mui alto e em um penedo grande uma ermida de abóboda que se chama N. Sra. da Penha, que se vê longe do mar e é grande refrigério e devoção dos navegantes, e quase todos vêm a ela em romaria cumprindo as promessas que fazem nas tormentas, sentindo particular ajuda da Virgem N. Senhora, e diz-se nela missa, muitas vezes. Esta ermida edificou-se a um castelhano sem ordens sacras, chamado Frei Pedro, frade dos Capuchos que aqui veio em licença de seu superior homem de vida exemplar o qual veio ao Brasil com zelo da salvação das almas e com ela andava pelas aldeias da Bahia, em companhia dos padres jesuítas. Desejando batizar alguns desamparados e como não sabia letras nem a língua, porque este seu zelo não fosse, nom sine cientia, batizando alguns adultos sem o aparelho necessário, admoestado dos padres, lhes pediu em escrito algum aparelho na língua da terra para poder batizar alguns que achasse sem remédio e os padres não pudessem acudir; e assim remediava muitos inocentes e alguns adultos. Com este mesmo zelo se foi à Capitania do Espírito Santo onde fez o mesmo algum tempo, confessando-se com os padres e comungando amiúde, até que começou e acabou esta ermida de N. Senhora, com ajuda dos devotos moradores, e ao pé dela fez uma casinha pequenina à honra de São Francisco, na qual morreu com mostras de muita santidade.

 

Fonte: Antologia do Convento da Penha, ano 1974
Autor: Frei Venâncio Willeke O. F. M.
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2015

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