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O reinado do café - São Mateus, a capital da farinha

São Mateus preserva até hoje os traços do aúreo ciclo da farinha de mandioca

São Mateus foi o primeiro pólo de desenvolvimento do Espírito Santo, capaz de levar vida autônoma numa época em que nem Vitória, como sede da capitania ou capital provincial, tinha recursos próprios para sobreviver. Nas origens desta situação singular está provavelmente o fato de que, distante da capital e do litoral, desde o início São Mateus não tinha a quem apelar.

São Mateus voltou-se naturalmente para a Bahia, sede do Governo Geral do Brasil, que lhe comprava a produção. Em 1763, numa atitude que os historiadores consideram malandragem, o ouvidor da Capitania de Porto Seguro "anexou" São Mateus ao seu território, mediante a extensão dos limites algumas léguas de primitiva divisa.

Apêndice

Ninguém protestou, até porque, naquela época, a Capitania do Espírito Santo era uma espécie de apêndice da Bahia. Na prática, esta governava o Espírito Santo, por delegação do rei de Portugal. Nos primeiros anos do Século XIX, entretanto, a irregularidade foi corrigida e São Mateus voltou a fazer parte do Espírito Santo. Mas continuou sendo a velha cidade independente de sempre.

Para não depender de favores nem ter de pedir ajuda, a região desenvolveu formas próprias de satisfazer suas necessidades. Na década de 50 do Século XIX, quando o café começava a invadir o Sul do Estado, a principal cidade do Norte do Estado mantinha a farinha de mandioca como a sua mercadoria de todas as trocas.

O grande comprador era o Rio de Janeiro. Outros bons mercados eram a Bahia e Vitória. E havia as novas alternativas, como o interior de Minas. Em 1856, os comerciantes de São Mateus começaram a mandar farinha — por novos caminhos —para Filadélfia (Teófilo Otoni) e Santa Clara, Minas Gerais. Mais ou menos em 1875, São Mateus abriu uma estrada para Serro, Minas Gerais.

Facilidade

O desenvolvimento de São Mateus foi facilitado pelo rio, uma via permanente de ligação com a costa brasileira e com o mundo. Os barcos que chegavam ao porto de São Mateus para embarcar farinha carregavam como lastro uma mercadoria valiosa na cidade: as pedras. Pedras que serviram para calçar ruas, construir prédios, proteger o próprio cais, onde chegavam a ser construídas embarcações de cabotagem, aptas à navegação marítima.

Com as pedras e a fibra herdada dos pioneiros, a cidade foi capaz de construir, em 1875, o primeiro teatro capixaba (21 anos antes do Melpômene, este o primeiro grande teatro de Vitória).

Se ficou fiel à farinha, não foi por desprezo ao café. É que suas terras arenosas eram impróprias. E, como era muito grande, o município encontrou a Oeste a condição e o clima favoráveis. E foi assim que São Mateus entrou na onda do café, recebendo imigrantes italianos, em 1887, que, mais tarde, transformariam a antiga colônia em Nova Venécia.

De olho nos municípios

VITÓRIA

Capital do Espírito Santo, Vitória apresenta a mais poderosa economia do Estado, com uma ocupação do solo eminentemente urbana. Consegue, assim, espremer a terceira maior população do estado (258.245 habitantes) na segunda menor área (81 quilômetros quadrados).

Vitória possui um dos maiores complexos portuários do país, que inclui o Cais de Vitória, o Porto de Praia Mole e o de Tubarão, que é o maior exportador de minério do mundo. E também um dos maiores do Brasil na siderurgia, com a Companhia Siderúrgica de Tubarão, além das 6 usinas de pelotização da CVRD. Também em outros setores, possui intensa e variada atividade industrial: tecidos, produtos alimentícios, pesca, e outros. No setor de serviços: comércio, serviços públicos, hotelaria, bancário, ensino superior, entre outros.

A história de Vitória está intimamente ligada ao início da colonização da região. A ocupação da ilha data de 1537, quando foi doada a Duarte Lemos. Em 1545, torna-se município. Em 1551, passa a sede da Capitania, com o nome Vila Nova do Espírito Santo, mais tarde Vila de Nossa Senhora da Vitória. A Vila enfrentou sucessivos ataques, primeiro dos índios, depois de invasores franceses (1561), ingleses (1592) e holandeses (1624 e 1640). Em 1624, destacou-se a atuação de Maria Ortiz. Em 1823, recebeu foros de cidade e, na década de 1920, foi alvo de um processo intensivo de urbanização.

COLATINA

Banhado pelo Rio Doce, o município de Colatina divide com Linhares uma posição de liderança na economia do Norte do Estado. Podemos destacar, na produção agropecuária, café, milho, arroz, frutas, pecuária leiteira e de corte, suínos e aves. No setor industrial, destaca-se a indústria moveleira e de vestuário. Possui também um comércio bastante diversificado.

Tem atualmente área de 1.830 quilômetros quadrados e população de 106.712 habitantes. Dista 131 quilômetros de Vitória pela BR-259, que o liga à BR-101.

Seu povoamento começou na última década do século passado, em Mutum e Barração de Baunilha. A partir de 1906, com a Estrada de Ferro Vitória a Minas, seu desenvolvimento foi muito acelerado. Em 1907, o então distrito de Colatina tornou-se a sede do município de Linhares. Finalmente, em 30 de dezembro de 1921, foi desmembrado e elevado à cidade.

Note-se que, recentemente o distrito de São Domingos foi emancipado, vindo a tornar-se o 70º município do Estado. Sua instalação efetiva ocorrerá após as eleições deste ano.

LINHARES

Cortado pelo rio Doce e com uma hidrografia privilegiada, Linhares possui grande potencial turístico, ainda pouco explorado. Para tanto, conta com suas numerosas lagoas, sendo a mais famosa a Juparanã, com 36 quilômetros de extensão. Apresenta também um extenso e desabitado litoral.

Destaca-se no setor agropecuário, com cacau (mais de 90% do total do Estado), café (o primeiro), feijão, cana-de-açúcar, pimenta-do-reino, frutas, eucalipto, pecuária de corte e leite (o maior rebanho do Estado), e suinocultura. Apresenta também boa atividade comercial e industrial, bem como produz carvão vegetal e petróleo.

Sua área é, de longe, a maior do Espírito Santo, com 4.333 quilômetros quadrados, para uma população de 119.501 habitantes. Dista 134 quilômetros de Vitória, pela BR-101.

Sua povoação inicialmente se desenvolveu ao redor de postos de controle do tráfego de ouro, crescendo apesar da violência dos índios. Foi elevada à vila e sede de município em 2 de abril de 1833, voltando porém a fazer parte de Colatina em 1907, finalmente, em 1946, emancipou-se definitivamente.

CACHOEIRO

Apelidado de "capital secreta do mundo", Cachoeiro de Itapemirim foi berço de inúmeras personalidades de destaque no país. Além disso, é o principal centro urbano do Sul do Estado, em torno do qual gravitam mais de 20 municípios.

Sua atividade agropecuária é uma das mais desenvolvidas, com destaque para a pecuária leiteira (a maior do Espírito Santo), suinocultura, cultivo de tomate, arroz, alho, frutas, café e milho. Também possui grande atividade nos setores de serviços e industrial, com destaque para a indústria do mármore, do qual é o maior produtor nacional.

Possui área de 880 quilômetros quadrados e população de 143.763 habitantes. Dista 136 quilômetros de Vitória, com boa malha de rodovias que o ligam à BR-101 e aos municípios vizinhos.

Sua história se inicia no século XVIII, com a chegada de exploradores em busca de ouro. Após 1820, tem início a colonização efetiva. Em 1856, foi criada a Freguesia de São Paulo das Cachoeiras do Itapemirim, que, a 25 de março de 1867, foi elevada a município, com o nome atual.

DOMINGOS MARTINS

Com uma população predominantemente composta por descendentes de alemães, Domingos Martins situa-se em uma região de grande potencial turístico. Para isso concorrem o clima e as belas paisagens de montanha, com destaque para a Pedra Azul.

Sua história remonta ao início do século passado, com a chegada de 47 famílias de imigrantes alemães, fundando a primeira colônia do Estado. Também vieram italianos, para os distritos de Araguaia e Aracê. O município, com o nome de Santa Isabel, foi criado em 20 de outubro de 1893, desmembrado de Viana. Em 1921, passa a chamar-se Domingos Martins, homenagem ao famoso herói capixaba.

Atualmente, o município produz hortifrutigranjeiros, café, feijão e bovinos. Dista 44 quilômetros quadrados, com população de 35.459 habitantes. Nota-se que, recentemente, os distritos de Marechal Floriano e Araguaia se emanciparam, formando Marechal Floriano o 71º município capixaba. Sua implantação efetiva ocorrerá após as eleições deste ano.

 

Fonte: O reinado do café, A Gazeta 31/08/1992
Pesquisa e textos: Geraldo Hasse, Linda Kogure e Abmir Aljeus
Fotos: Valter Monteiro e Tadeu Bianconi
Concepção gráfica: Sebastião Vargas
Ilustração: Pater
Edição: Orlando Eller
Compilação: Walter de Aguiar Filho, outubro/2016

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