Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

Primitivas Matrizes – Por Mário Freire

Na pedra, à esquerda havia o Forte São Diogo, 1932 - Fonte: Arquivo Restaurado José Tatagiba, Vitória ES

Sobre o Reguinho, lodosa vala que, buscando o mar, derivava pelas atuais ruas Graciano Neves e Sete de Setembro, até a praça, agora, da Independência, havia em Vitória, no fim do primeiro quartel do século XVIII, o forte de S. Diogo. Ficava no ponto onde hoje se vê a escadaria desse nome. Uma sesmaria de 1723, permite localizá-lo.

Mandara o Vice-rei, conde da Sabugosa, repará-lo pelo capitão Nicolau de Abreu, nome que se lê, na Capital, em uma das esquinas da moderna Avenida Capixaba. Com um ajudante, que trouxe, melhorou, na mesma ocasião, além da fortaleza da barra, outras fortificações: os fortes de N. S. do Monte do Carmo; de S. Inácio ou S. Maurício, dentro da cerca dos jesuítas; e ao alto, mais para o interior da modesta Vila, os de Santiago e N. S. da Vitória. Ao mesmo tempo, tantos melhoramentos executou no vetusto forte de S. João, que o cronista das "Memórias de um Capixaba" supôs essa fortaleza levantada em 1726. Desse ano há um velho canhão na antiga praça de Nova-Almeida.

Superintendia Nicolau de Abreu Carvalho as referidas obras, quando o Provedor da Fazenda requisitou-o para avaliar e orçar, juntamente com o Ajudante e o pedreiro mais perito da Vila, a despesa provável a fim de reedificar a primitiva Matriz de N. S. da Vitória. Havia D. frei Antônio de Guadalupe, Bispo do Rio de Janeiro, a cuja diocese pertencia o Espírito Santo, requerido que o Rei mandasse reconstruí-la à custa do Erário Régio, alegando que a mais antiga freguesia do sul do Brasil fora instituída nesta Capitania. Realmente, a pedra d'ara da tradicional Matriz de Vila-Velha ainda conserva, como dissemos, a indicação "Lisboa”, e a data 1535, em urna de suas capas.

A informação sobre a perícia da velha Matriz, anterior a que foi substituída pela Catedral de nossos dias, registrou-lhe as seguintes dimensões, mesquinhas, em palmos: vinte e seis metros e meio, no corpo principal; e, de altura, apenas, uns escassos quatro metros e meio!... Parecia mais uma casa de armazém, do que lugar consagrado à celebração de ofícios divinos — resumia, desolado, o Provedor da Fazendal...

Embora pobre, a pequena Vila contava uma população de mais 5.000 vizinhos, abrangendo os cativos. Distribuía-se por mais de 700 "fogos". A cobrança arrendada dos dízimos estava produzindo dois contos e quinhentos, por triênio.

Por uma provisão de 1726, o Rei deliberou efetivamente custear aquela reconstrução, orçada em 10.000 cruzados. Cinco anos depois, uma carta régia ainda mandava retirar, anualmente, do produto dos dízimos, mil cruzados para a mesma obra; mas obrigou o povo a contribuir com igual importância...

Governava, por aquele tempo, o muito poderoso D. João V, "o rei mais opulento de seu tempo". Só para usar e ostentar o título de "Rei Fidelíssimo", não trepidara em distender milhões de cruzados!... Em alguns anos de seu faustoso reinado, isto é, de 1722 até 1745, só a Capitania de Minas Gerais produziu mais de seis mil arrobas de ouro, e trezentas de prata, produção considerável para os processos da época, afora dois mil e trezentos quilates de diamantes! Os reditos correspondentes, arrecadados pelo Erário, subiram a cento e dezesseis milhões de cruzados!...

Todo o Espírito Santo, havia pouco, fora adquirido por... quarenta mil!...

Desde 1727 vinha sendo lançado o "donativo"... obrigatório, para o dote da Infanta que se ia casar com o futuro Rei Fernando VI, de Castela, contribuição assim exigida durante onze anos !...

O jesuíta Domingos Capacci veio, em 1729, estudar o litoral do Espírito Santo, por ordem do Rei, para seu conhecido mapa do Brasil.

Fazendo uma correição em Vitória, vira o Ouvidor Geral do Rio de Janeiro algum ouro que Pedro Bueno Cacunda trouxera do ribeirão Sant'Ana, na rica região do Manhuaçu. Escreveu o Ouvidor ao Rei, em 1731, esclarecendo que o Capitão-mór Silvestre Cirne da Veiga fizera logo escrupulosamente quitá-lo...

Esse descobrimento ficou registrado na correspondência dos beneditinos, embora já afastados da Capitania, onde; da igreja que haviam deixado, em Vitória, só vestígios restavam...

Uma lei de 1724 mandara dividir os terrenos auríferos em pequenos lotes, e distribuí-los por quem se propusesse a explorá-los, sujeitando-Se às leis das sesmarias e aos pagamentos devidos pelo ouro, porventura, encontrado.

Informando que o acesso para aquela região podia ser feito pelos portos de Guarapari e Reritiba, de preferência ao do Itapemirim, mais perigoso, o aludido sertanista requereu alguns índios das aldeias de Reis Magos e Reritiba, a fim de prosseguir em suas promissoras explorações.

Não obstante haver o Rei mandado fornece-los, pôde recusá-los o Vice-rei; com aplauso dos jesuítas, porque o requerente, mandado atender, pretendera ainda fossem os respectivos jornais pagos pelos quintos régios... E requerera mais: alguns hábitos da Ordem de Cristo; autorização para conceder terras; e a superintendência das minas daquela zona, com a faculdade de substabelecer, depois, essa função em pessoa idônea e da confiança dele...

Ainda contra a escravização dos indígenas, no Brasil, o Papa Benedito XIV sentiu necessário baixar nova Bula em 1741. Pareceu logo, a muitos, uma oportuna advertência, até contra os próprios jesuítas, que continuavam obtendo, do trabalho indígena, resultados cada vez mais apreciáveis.

 

Fonte: A Capitania do Espírito Santo, ano 1945
Autor: Mário Aristides Freire
Compilação: Walter de Aguiar Filho, junho/2015

História do ES

Administração e serviços públicos na República

Administração e serviços públicos na República

Os faróis de Santa Luzia e da Ilha do Francês; as fortalezas de S. João e S. Francisco Xavier, as Companhias de Infantaria e de Polícia e o Batalhão da Guarda Nacional

Pesquisa

Facebook

Matérias Relacionadas

No tempo de Maria Ortiz - Por Mário Freire

Uma das primeiras medidas administrativas do século XVII, foi, corno dissemos, completa proibição de tráfico ou comércio com estrangeiros

Ver Artigo
Nas Vésperas da Independência – Por Mário Freire

A última barreira do Siri, próxima à foz do Itapemirim, havia sido o extremo norte da fazenda, doada aos padres em 1702

Ver Artigo
Após a Independência - Por Mário Freire

Dissolvendo a Constituinte em Novembro de 1823, Pedro I incumbiu o Conselho de Estado de organizar um projeto de Constituição

Ver Artigo
Os primeiros Jesuítas do ES - Por Mário Freire

A fundação dessa confraria ou irmandade justifica ser a Misericórdia do Espírito Santo, da qual Anchieta foi capelão, uma das mais antigas do Brasil

Ver Artigo
No princípio – Por Mário Freire

A “Glória”, a caravela de Coutinho, permitiu-lhe trazer 60 companheiros. Entre esses, o fidalgo D. Jorge de Menezes e Simão de Castelo Branco

Ver Artigo
Finda o Governo do Primeiro Donatário - Por Mário Freire

Confiou o governo a Belchior de Azevedo, como Capitão, com os poderes e a jurisdição que o donatário exercera: firmou esse ato na "vila de N. S. da Vitória"

Ver Artigo
Há duzentos anos passados... - Por Mário Freire (1945)

Reritiba assistiu, em 1742, um indígena que, durante uma procissão portara-se inconvenientemente, exaltou-se e conseguiu amotinar todo o aldeamento

Ver Artigo
A Independência no Espírito Santo - Por Mário Freire

O Ministro Manoel Pinto Ribeiro Pereira de Sampaio, notável espírito-santense, que faleceu em 1857 como presidente do mais alto Tribunal do País

Ver Artigo
O Norte do Espírito Santo – Por Mário Freire

Atravessaram a Ponte da Passagem, construída com o nome de Ponte de Maruípe em 1799 ou 1800, Saint-Hilaire já a encontrou em mau estado 

Ver Artigo
Últimas observações de Neuwied e Saint-Hilaire - Por Mário Freire

Saint-Hilaire escreveu curiosas observações sobre algumas culturas, como a do algodão

Ver Artigo
O Herói de 12 de junho – Por Mário Freire

Varonil até o derradeiro instante, parte dele a ordem de atirar, ao pelotão do próprio fuzilamento! 

Ver Artigo
O Sul do ES no início do Século XIX – Por Mário Freire

Rubim descreve uma grande planície até a povoação de Guaranhum, inundável quando se não limpava a vala que conduzia as águas do rio da Costa 

Ver Artigo
O Governador Rubim - Por Mário Freire

Francisco Alberto Rubim, oficial de marinha, assumiu o governo em 1812. Mandou escrever em 1816 uma descrição da Capitania

Ver Artigo
Vitória Colonial – Por Mário Freire

O cientista Saint-Hilaire enumera os conventos de S. Francisco e do Carmo quase fora da Vila: o pavimento térreo do segundo já estava ocupado por soldados pedestres

Ver Artigo
Expulsão dos Jesuítas - Por Mário Freire

Em Vitória foi erguido um templo a N. S da Conceição. Foi construído no prolongamento da Rua da Praia no ponto onde a Rua Graciano Neves atinge a Praça da Independência 

Ver Artigo
O Governador Tovar - Por Mário Freire

A vila do Espírito Santo ainda conservava os alicerces da primitiva alfândega, estabelecida nos primeiros dias da colonização

Ver Artigo
Primeiros dias do Século XIX – Por Mário Freire

O primeiro Governador no século passado, Antônio Pires da Silva Pontes era notável geômetra e astrônomo, com relevantes serviços na demarcação dos limites do Brasil 

Ver Artigo
Ao findar do Século XVIII – Por Mário Freire

O majestoso portão de acesso ao Convento da Penha conserva a data de 1774. Nessa época, ergueram, ao fim de penúltima volta da ladeira, uma capela ao Bom Jesus

Ver Artigo
Um cimélio do Arquivo Municipal - Por Mário Freire

A Prefeitura Municipal de Vitória possui uma planta datada de 1764 do capitão José Antônio Caldas, incumbido de apresentar as plantas de diversas fortificações desta Capitania 

Ver Artigo
De Francisco Gil de Araújo ao final do Século XVII - Por Mário Freire

A criação da Vila de Guarapari, em 1 de janeiro de 1679, foi um de seus mais celebrados atos 

Ver Artigo
Reincorporação da Capitania à Coroa - Por Mário Freire

Um velho mapa, rudimentar, de 1631 assinala o rio Doce como extremo da Capitania de Porto Seguro. Teria talvez influído para a Ouvidoria do Espírito Santo ficar limitada, por esse rio, com a Comarca de Porto Seguro

Ver Artigo
A Inquisição no Espírito Santo - Por Mário Freire

Uma ordem régia de 1720, por exemplo, proibiu aos barqueiros e canoeiros cobrarem passagens aos franciscanos, em viagem por mar ou rio, no trecho entre o Espírito Santo e o Rio de Janeiro

Ver Artigo
Surgem as Minas Gerais - Por Mário Freire

A quem descobrisse ouro ou prata, além do foro de fidalgo assegurara a propriedade das minas, com a obrigação apenas de pagar o quinto devido à Fazenda

Ver Artigo
Cessa o domínio dos descendentes do fundador - Por Mário Freire

Filho de Ambrósio de Aguiar Coutinho, era neto de Antônio Gonçalves da Câmara. Este fora casado com D. Maria de Castro, filha de outro Ambrósio de Aguiar Coutinho

Ver Artigo
Primeira metade do Século XVII – Por Mário Freire

Puderam os franciscanos ampliar, em 1637, a ermida da Penha, transformando-a em santuário; pouco depois, faziam o calçamento da ladeira

Ver Artigo
Segunda metade do Século XVII – Por Mário Freire

Os jesuítas, cuja rivalidade com os franciscanos era indisfarçável, tentaram apossar-se judicialmente do Santuário da Penha

Ver Artigo
Como se escrevia a história nos tempos de Maria Ortiz - Por Mário Freire

Maria Ortiz despejou um caldeirão de água fervente, no Almirante Pieter Pieterszoon Heyn, chefe da expedição holandesa

Ver Artigo
Finda o século XVI no Espírito Santo - Por Mário Freire

A “Capitoa e Governadora” do Espírito Santo; por morte de filho de igual nome do Fundador, coube a donataria, em 1589

Ver Artigo
Primeiras ocorrências do Século XVII - Por Mário Freire

O velho Tombo do Convento registrou a invasão holandesa em Vitória. Durante a luta, as mulheres postaram-se na igreja da Misericórdia

Ver Artigo
Quando os Franciscanos e os Beneditinos chegaram - Por Mário Freire

Pedro Palácios em 1558, ergueu, uma pequena ermida a São Francisco; e iniciou mesmo a construção de uma capela, no alto pedregoso da colina

Ver Artigo
Primitivos Aldeamentos após a morte do 1º Donatário - Por Mário Freire

O desânimo que a todos ia empolgando, na Capitania, não atingia, felizmente, os jesuítas

Ver Artigo
Velhas Contendas - Por Mário Freire

A resolução régia de 1732 fez presumir ou considerar Campos pertencente ao Espírito Santo

Ver Artigo
Revoluções Liliputianas - Por Mário Freire

D. João V, que, indiferente aos protestos do povo, costumava repetir: "Meu Avô deveu e temeu; meu Pai deveu: eu não devo, nem temo"... 

Ver Artigo
Viagem de Pedro II ao Espírito Santo - Por: Mário Freire

Excelente o trabalho de Levi Rocha, na “Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro”, sobre a visita, em 1860, do Imperador, com a reprodução dos seus curiosos desenhos e observações

Ver Artigo